11.12.10

Devaneios simples e lhanos de sábado à noite

A mulher é feia, e tem um rabo exponencial - em tamanho, não em qualidade. Já me cruzei com ela várias vezes, sempre acompanhada do marido, que tem mais vinte anos do que ela e uma cara de beauf, ou de Français moyen como já não se fazem senão no cinema, ou na banda desenhada. Não pára de olhar para mim, por cima dos ombros do homem. Há pouco disse-lhe claramente que não: abanei a cabeça e abri bem os olhos. Ela respondeu juntando os lábios - ao princípio pensei que fosse para simular um beijo; só depois me apercebi do que era.

Noutra mesa um tipo suja a t-shirt e manifesta-se ruidosamente. É uma mesa grande, uma tripulação de charter ou de um barco de regata. Devem ser daqui, pois estão queimados pelo sol. Algém diz "fazer leme à popa é difícil, mas para mim é o mais interessante". Discordo silenciosa, educadamente. Fazer leme à popa é uma seca. Interessante é a bolina; e a um largo excitante. "Nem tudo o que é difícil é interessante", penso. "Mas tudo o que é interessante é difícil". Será? Não sei.

A mulher do rabo grande fala com o marido. Sei que é o marido porque os vejo sempre juntos. No outro dia foi no correio, e antes disso no centro comercial. Na outra mesa alguém faz anos e canta-se os parabéns a você. O jantar chega ao fim. Peço a conta; é mais barato do que eu pensava.

Nada disto aconteceu - o jantar resumiu-se a uma coxa de frango grelhada e uma cerveja. Não houve rabos grandes nem parabéns a você excepto na mente de um senhor gordo e ligeiramente careca que jantava sozinho numa mesa à frente da minha.

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