13.12.10

A esquerda e a direita

"Precariedade, precariedade, precariedade".

Este artigo seria uma boa resposta indirecta a estoutro: a verdadeira pergunta não é "Porque (ainda) ganha a direita?" mas "Porque ainda ganha a esquerda?" Acontece que as pessoas não são estúpidas e suportam um determinado grau de verdade - ainda que, infelizmente, para isso tenham de passar por momentos, ou anos, de esquerda.

"De verdade" é propositado: a esquerda está protegida do real por uma gabardine ideológica, e qualquer pingo de realidade que lhe caia em cima é rapidamente afastado por um "efeito Perl". Há muitos anos (vai para 30) um amigo meu dizia que os músculos dos africanos têm mais fibras musculares do que os dos brancos; não sei se é verdade se é mentira, e pouco me interessa. O que é relevante é que a minha namorada da altura, de esquerda que era, achou escandaloso porque viu naquilo uma justificação de tudo, desde a escravatura até  ao assassinato de Luther King (o meu amigo era americano, e estava a explicar porque é que havia mais negros a ganhar maratonas do que brancos, pelo menos na altura). Repito que não sei se é verdade se não, e não é isso que é relevante.

O que é relevante é que ela não contestou a veracidade ou falsidade da afirmação. Tal não lhe ocorreu sequer. Edward Wilson passou as passas do Algarve - não porque a sociobiologia fosse contestada, mas porque não estava de acordo com os óculos cor-de-rosa da ideologia dominante. Recentemente apareceram medicamentos nos Estados Unidos que têm efeitos diferentes consoante a pessoa é negra ou branca - e a contestação não passou, claro, pela veracidade dessa diferença, mas pelo "racismo" que lhe está "associado". Mais ou menos na mesma altura em que o meu amigo Mark se fazia verberar por causa das fibras musculares eu perguntava à minha namorada porque acreditava ela que o espírito era diferente da carne. Ela respondia-me que não acreditava num espírito separado da carne. "Então porque achas que as mulheres não são diferentes dos homems? Achas que as diferenças físicas não têm equivalentes mentais? O cérebro é uma categoria à parte, e aquilo que faz uma mulher diferente visualmente de um homem não age nas células cerebrais?"

Hoje as perguntas são diferentes, claro; mas cada vez abomino mais a esquerda e a sua incapacidade de olhar para a realidade como ela é, sem a carregar de categorias que lhe são completamente alheias. Infelizmente cada vez mais me parece inevitável uma versão ocidental do Yin e do Yang: a esquerda ganha eleições, e a direita também, porque ninguém pode viver permanentemente no mundo de faz de conta, e porque todos precisamos regularmente de um bocadinho de faz de conta.

Adenda - nem de propósito, um magnífico exemplo da relação da esqerda com a verdade: "Under Danish jurisprudence it is immaterial whether a statement is true or untrue. All that is needed for a conviction is that somebody feels offended." (Via Insurgente)

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