A galinha decapitada precisava de amor, coitada; meteu-se nos braços de um tubarão - lixou-se, claro (literalmente: já houve tempos em que a pele de tubarão era usada para fazer lixa). Mas a pobre da galinha decapitada não sabia isto. Conheceram-se numa tasca chinesa de S. Kitts, um sítio feio, tão feio como os mais horrendos que ela teria visto, se ver pudera. As paredes eram verdes, uma cor indefinível algures entre o verde alface e o verde vómito de marciano; a iluminação, de néon, violenta e abundante, enchia o espaço de uma forma violente, quase sólida; a decoração era constituída por quadros chineses de flores cuja função era demonstrar que para lá do kitsch, do mau gosto e da fealdade ainda existe vida. Mesas em fórmica e chão em cerâmica cinzento claro com algumas formas brancas, escavadas completavam o cenário. Os clientes eram da mesma ordem - com excepção do tubarão, que sobressaía. Mas a galinha não podia ver, claro - perdera os olhos ao mesmo do que a cabeça, coisa que acontece muitas vezes, note-se, e não só a galinhas decapitadas, que os amigos do professor Damásio me perdoem. Bem apessoado, alto e magro, de óculos escuros mesmo à noite, estava sentado numa mesa de canto, e bateu palmas mal viu a Coisa - era assim que ela se auto-designava - entrar.
Na mesa dele estava uma senhora com um rabo enorme, daqueles que levam gerações a construir. Começava a meio das costas e acabava a meio das coxas; parecia que estava grávida atrás, ou que alguém he tinha colado uma meia-lua à parte traseira do corpo. Haveria alguma coisa entre eles? Nunca o saberemos.
Mal viu a galinha entrar o tubarão pensou "tenho pequeno-almoço amanhã". Enganava-se. Quem serviu de pequeno almoço foi ele, e todos os dias. Ela fazia o que queria dele. O tubarão não estava contente, claro - tinha entrado naquilo para comer e estava a ser comido, ainda por cima por uma galinha que nem aos amigos podia mostrar.
A história durou muito tempo. Até um dia a galinha descobrir que afinal o amava e lho dizer: "amo-te". Encostou-se a ele e lixou-se. A vida de casal acaba sempre mal.
Na mesa dele estava uma senhora com um rabo enorme, daqueles que levam gerações a construir. Começava a meio das costas e acabava a meio das coxas; parecia que estava grávida atrás, ou que alguém he tinha colado uma meia-lua à parte traseira do corpo. Haveria alguma coisa entre eles? Nunca o saberemos.
Mal viu a galinha entrar o tubarão pensou "tenho pequeno-almoço amanhã". Enganava-se. Quem serviu de pequeno almoço foi ele, e todos os dias. Ela fazia o que queria dele. O tubarão não estava contente, claro - tinha entrado naquilo para comer e estava a ser comido, ainda por cima por uma galinha que nem aos amigos podia mostrar.
A história durou muito tempo. Até um dia a galinha descobrir que afinal o amava e lho dizer: "amo-te". Encostou-se a ele e lixou-se. A vida de casal acaba sempre mal.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.