11.1.11

De que falar, quando há tanto de que falar?



Recentemente fiz três jantares improvisados (polvo guisado, frango cozido e caril de atum) e um (Colombo de porco) que foi muito bem planeado. Todos receberam cumprimentos dos destinatários, excepto o caril, que estava medíocre; dei andamento a um projecto antigo, que me consumiu pouco mais de um ano de vida e me deu, em troca, um oceano de amargura; apercebi-me de muitas coisas boas e outras menos boas - por exemplo, posso passar por baixo de escadas, porque no fundo tenho muita sorte, o que é bom; e não sei dar nós com uma mão apenas, e amarrada atrás das costas, o que é mau. Descobri teorias da conspiração que roçam o sublime, de tão idiotas; que percebo um bocadinho de algumas coisas e muito de duas, só - o mar e tu (felizmente são as mais importantes, pelo que não me queixo de serem tão poucas). Confirmei que a esperança é a melhor coisa que Deus (ou a evolução, para o caso de algum ateu militante ler isto) nos deu, para além de dois ou três orgãos - entre os quais se conta o cérebro, apresso-me a acrescentar, não vá alguém deduzir ilações erróneas. Descobri que alguns barcos à vela (e outros a motor) são a coisa mais bonita que o homem jamais fez, incluindo os quadros de Mantegna e Caravaggio, e que o ilimitado poder de atracção do mar vem do facto de ele não exigir uma fidelidade absoluta - sabe que com ou sem ela a ele voltarei, sempre; emocionei-me com a carta de um amigo, pensei que gosto do vento e lembrei-me de que quando ele me acaricia penso em ti;  perguntei-me de onde vem este gosto imoderado por tudo o que é humano e achei, enfim, que o melhor é não falar de nada.

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