8.2.11

António Costa e a bicicleta

Em 1983 o Parlamento Suíço elegeu para o Governo um senhor chamado Otto Stich. Esta eleição foi excepcional a mais de um título; mas, para que se saiba, esse título é que Otto Stich prevenira que só iria para o governo se fosse ministro das Finanças; e que sendo ministro das Finanças, a sua missão seria substituir o infame ICHA (Impôt sur le Chiffre d'Affaires) pelo IVA (enfim, TVA). Se o Parlamento quisesse, tudo bem; se não quisesse, amigos como dantes.

Era um caso bicudo porque Otto Stich era (e presumo que ainda seja) socialista. E na Suíça, um país regido pelo povo e pelo bom senso um socialista não é, ponto final, ministro das finanças, tal como alguém de um partido de direita não é ministro dos assuntos sociais (o que é pena, mas enfim).

Porém Otto Stich era bom, o consenso contra o ICHA sólido e, suspeito, mais ninguém queria assumir a tarefa chata de mexer num imposto na Suíça, fosse ele o ICHA. Otto Stich foi eleito.

Já aqui contei a saga da adopção do IVA - foram precisas 4 votações; e o IVA só foi aceite à quarta porque Stich se lembrou de incluir nas perguntas do referendo uma muito simples: "Se respondeu Sim à pergunta anterior (que basicamente consistia em perguntar se as pessoas aceitavam a implantação do IVA) a taxa deve ser de 4%, 4,5% ou 6%?" Enquanto esta pergunta não figurou nos formulários, a resposta foi Não. Quando apareceu, os Suíços optaram pela taxa intermédia, e o IVA substituiu o ICHA.

Otto Stich era uma personalidade peculiar, que ia para o Palácio Federal de bicicleta; todos os dias às cinco da tarde dava por findo o seu dia de trabalho e ia jogar xadrez para os cafés da praça que lhe ficava à frente. Vi-o muitas vezes, com o nó da gravata desapertado, a jogar xadrez e a falar de tudo "menos de trabalho" com os outros clientes dos cafés.

A bicicleta de Otto Stich era uma bicicleta do Exércíto, sem mudanças e que devia pesar alguns 25 quilos.

"Ideias para Lisboa: António Costa de bicicleta entre o Intendente e a Praça do Município"

PS - não me perguntem qual é a relação; não há relação. E sim, eu sei que há diferentes concepções do poder. E que essas diferentes concepções têm diferentes consequências.

PPS - é possível que haja algumas incorrecções factuais - não me lembro se foram 3 se 4 votações; e não sei se a norma de excluir socialistas do ministério das finanças ainda se aplica. Nem o DV é um jornal, nem eu tenho muita paciência para ir verificar agora.

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