9.12.11

Cinco minutos

Se soubesse escrever escrever-te-ia cartas de amor, longas cartas de amor cheias de encadeamentos brilhantes entre as estrelas e a tua pele, ou entre os teus olhos e as profundezas de uma gruta qualquer na Serra dos Candeeiros (não digo Fossa das Marianas não vás tu pensar que te ando a enganar com uma, ou várias, Marianas. E não digo Canhão da Nazaré porque não gosto de canhões; mas são ambos profundos, repara, e dariam belíssimas analogias com os teus olhos, tão profundos que eles são).

Mas não sei escrever e devo limitar-me a agitar-te palavras à frente como se te dissesse "olá amor acorda está na hora temos de ir trabalhar" e tu estremunhas e esfregas os olhos (primeiro um depois o outro, nunca os dois ao mesmo tempo) e dizes-me "quero dormir mais cinco minutos" e eu respondo "sim", claro, porque já sabia que as minhas palavras não te acordariam tal como as minhas mãos de manhã não te acordam tal como estas palavras que te agito à frente dos olhos são mais um cobertor nestas manhãs frias e tu aconchegas-te nelas e dormes mais cinco minutos e não são dedos que te percorrem como o vento percorre a superfície do mar e nela deixa uns traços que se desvanecem logo a seguir.

Ao menos isso, repara, embrulhas-te nas palavras e dormes; talvez sejam elas que te percorrem a pele e nela deixam traços que não se vêem a menos que tenhamos olhos particularmente treinados - tal como os cinco minutos de sono que todas as manhãs me pedes só se vêem se olharmos muito bem para eles.

São cinco minutos só, repara, passam num instante mas é assim que começamos o dia, tu embrulhada nas palavras e eu em ti, no teu sono, nas tuas coxas tão duras, no arfar simples das palavras "deixa-me dormir mais cinco minutos" "sim" "sim" "sim".

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