Hoje também foi dia de folga, inesperadamente. O day charter é assim: os clientes reservam à última hora, e cancelam idem. Não me queixo. Estava a precisar de uns momentos para mim, de pôr a escrita em dia, de passar em terra um dia soberbo como o de hoje.
Está vento, e com excepção do B., o nosso vizinho canadiano que quase nunca se vê somos os únicos ocupantes do Reef Gardens. Não há grande coisa a fazer, ou dizer: os dias triviais são os melhores.
Pouco a pouco integramo-nos na comunidade local, notoriamente fechada. Enfim, local é uma maneira de dizer: a comunidade dos yachties, esse mundo flutuante que, como dizia a Helena, parece ser outro planeta.
Todos se conhecem de outros portos, de outros barcos, encontram-se e reencontram-se com grandes manifestações de alegria para depois passarem mais meia dúzia de meses, ou anos, sem se ver.
Os mega-iates a motor vão para St. Marteen; os de vela vêm para Antigua. A marina está cheia de mastros - temos cá o MIRABELLA V, que durante anos teve o mastro mais alto do mundo, com 85 metros; o ANGEL'S SHARE, um Wally de 132' que é a coisa mais linda que já vi passar, num doce balanço no mar; o FIREFLY, que também é a coisa mais linda, etc.. E etc. e etc.: são inúmeros. O VELSHEDA, uma réplica do RANGER, o SAUDADE, se não me engano o maior Wally até hoje construído.
Muitos biliões de dólares, muita gente, muita beleza. A indústria dos mega iates alimenta milhares de pessoas e cria trabalho nas mais variadas coisas - de restaurantes e bares, claro, a artistas - pintores, fotógrafos, ceramistas - passando pelos serviços técnicos: mergulhadores, electrónicos, maquinistas, catering, veleiros, electricistas, riggers (as pessoas que fazem, instalam ou reparam mastros), reparadores de fibra e gelcoat. E depois há os day workers, malta que vai trabalhar ao dia nas mais variadas coisas (normalmente, mas nem sempre, as desagradáveis: vernizes, limpezas depois de uma travessia).
Às vezes pergunto-me se é na verdade o mundo dos iates que é "outro planeta". A mim parece-me que ele é que é "o planeta".
O gajo da mota acaba de passar. É um idiota que tem uma super-mota qualquer e todos os dias - todos os dias, não é uma força de expressão - atravessa Falmouth Harbour a uma velocidade estonteante. Enfim, não é só a velocidade, é sobretudo o barulho que aquilo faz. É horroroso, agressivo.
Hoje é domingo, temos direito a várias "passagens" do senhor. A mota ouve-se a quilómetros de distância. Na sexta-feira comentava com M., o dono do Sun Ra o quanto gostaria que ele (o gajo da mota, claro) morresse. "Não te preocupes, ele vai tratar disso sozinho", respondeu-me.
Aparentemente é familiar de um gajo qualquer importante na polícia e goza de impunidade. Não acredito muito na explicação, porque a verdade é que em Antigua se conduz de uma forma que faz os portugueses parecerem suecos, e nem todos os condutores devem ter familiares bem colocados na polícia. (Pelo menos não sou obrigado a pôr o cinto de segurança, apesar de ter, como diz um gigantesco billboard à entrada de St. Johns, "alguém à minha espera em casa").
Está vento, e com excepção do B., o nosso vizinho canadiano que quase nunca se vê somos os únicos ocupantes do Reef Gardens. Não há grande coisa a fazer, ou dizer: os dias triviais são os melhores.
Pouco a pouco integramo-nos na comunidade local, notoriamente fechada. Enfim, local é uma maneira de dizer: a comunidade dos yachties, esse mundo flutuante que, como dizia a Helena, parece ser outro planeta.
Todos se conhecem de outros portos, de outros barcos, encontram-se e reencontram-se com grandes manifestações de alegria para depois passarem mais meia dúzia de meses, ou anos, sem se ver.
Os mega-iates a motor vão para St. Marteen; os de vela vêm para Antigua. A marina está cheia de mastros - temos cá o MIRABELLA V, que durante anos teve o mastro mais alto do mundo, com 85 metros; o ANGEL'S SHARE, um Wally de 132' que é a coisa mais linda que já vi passar, num doce balanço no mar; o FIREFLY, que também é a coisa mais linda, etc.. E etc. e etc.: são inúmeros. O VELSHEDA, uma réplica do RANGER, o SAUDADE, se não me engano o maior Wally até hoje construído.
Muitos biliões de dólares, muita gente, muita beleza. A indústria dos mega iates alimenta milhares de pessoas e cria trabalho nas mais variadas coisas - de restaurantes e bares, claro, a artistas - pintores, fotógrafos, ceramistas - passando pelos serviços técnicos: mergulhadores, electrónicos, maquinistas, catering, veleiros, electricistas, riggers (as pessoas que fazem, instalam ou reparam mastros), reparadores de fibra e gelcoat. E depois há os day workers, malta que vai trabalhar ao dia nas mais variadas coisas (normalmente, mas nem sempre, as desagradáveis: vernizes, limpezas depois de uma travessia).
Às vezes pergunto-me se é na verdade o mundo dos iates que é "outro planeta". A mim parece-me que ele é que é "o planeta".
O gajo da mota acaba de passar. É um idiota que tem uma super-mota qualquer e todos os dias - todos os dias, não é uma força de expressão - atravessa Falmouth Harbour a uma velocidade estonteante. Enfim, não é só a velocidade, é sobretudo o barulho que aquilo faz. É horroroso, agressivo.
Hoje é domingo, temos direito a várias "passagens" do senhor. A mota ouve-se a quilómetros de distância. Na sexta-feira comentava com M., o dono do Sun Ra o quanto gostaria que ele (o gajo da mota, claro) morresse. "Não te preocupes, ele vai tratar disso sozinho", respondeu-me.
Aparentemente é familiar de um gajo qualquer importante na polícia e goza de impunidade. Não acredito muito na explicação, porque a verdade é que em Antigua se conduz de uma forma que faz os portugueses parecerem suecos, e nem todos os condutores devem ter familiares bem colocados na polícia. (Pelo menos não sou obrigado a pôr o cinto de segurança, apesar de ter, como diz um gigantesco billboard à entrada de St. Johns, "alguém à minha espera em casa").
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.