9.5.12

Redifusão

A night in Paris, 04-12-06

Le Petit Baigneur., 10 rue de la Sablière, 75014

A chacun ses armes
Mon voisin drague la femme à sa table en faisant abondamment recours à l'histoire de son grand-père, prisonnier des allemands pendant la deuxième guerre mondiale. La femme, dont je ne vois que les cheveux, blonds et beaux, très beaux (cela ne va pas toujours ensemble) et le dos, banal comme tous les dos, est - je le soupçonne au départ et le confirme après - Russe. Elle doit être sensible à ses arguments, elle devrait, mais ne le montre pas trop. Il parle très fort, elle répond d'une voix très mince, très basse, inaudible.

Numa outra mesa um casal de maricas fala, olhos nos olhos, numa interacção não-verbal digna de manual: ambos sentados obliquamente em relação à mesa, as linhas dos ombros paralelas, as faces viradas para o mesmo lado (um olha para a esquerda, o outro para a direita). Braços simétricos, o esquerdo sobre a mesa, o direito erguido, com um cigarro na extremidade. Tudo é simétrico neles, menos as faces, que olham na mesma direcção. O meu vizinho muda, outra vez, para a geopolítica.

La décoration do Petit Baigneur est nettement meilleure que celle du Cana'Bar; pour la raison simple et irréfutable que celui-ci n'en a pas.

Sinto-me num filme francês: um restaurante popular, com russas, homens em pleno engate público, maricas e, num canto, um velho que rabisca furiosamente num calepin Clairefontaine 9 x 14 cm, 192 pág.

Por vezes, gostaria de deixar de ouvir o meu vizinho. S'il veut draguer, ne pourrait-il pas se limiter à sa table? Il fait des digressions et des digressions et des digressions, mais revient, régulièrement, à ce qu'il croît être ses points forts: la deuxième guerre mondiale (c’est-à-dire, son grand-père) et la géopolitique. Il a peut-être raison, mas o envolvimento corporal da jovem senhora não o mostra: ela continua reticente.

Uma das mesas levanta-se, e vejo de repente uma mulher que ainda não tinha visto. Faz-me imediatamente pensar na Christine L. Isto não é um restaurante, é uma tranche de vie. A empregada, descubro agora, é portuguesa. No Cana'Bar é, claramente, de origem africana (sorry for the jeu de mots dégueu).

Tranches de vie, ou Comparaison n'est pas raison. Só poderei ajuizar definitivamente depois de ver a conta do Petit Baigneur. Vejamos: a empregada está a milhas (para baixo. É impossível, de qualquer forma, estar a milhas para cima). A cozinha é equivalente. Não há casais de amantes, e as mulheres não são tão bonitas. A decoração é melhor. Os preços iguais. Resultado: um dia um, um dia outro.

Merde, j'ai raté le visage de la voisine, qui s'est levée pour aller aux toilettes. Son engagement corporal a nettement, radicalement, changé. Le gars, sa géopolitique à la mormoilleneux et son histoire de famille à dormir debout ont gagné. Je suis heureux pour lui.

Case study: y a-t-il eu une relation entre la visite aux toilettes et le changement de disposition? (demander à S.)

O dia começa finalmente a dissolver-se no vinho e na Mirabelle; hoje começa finalmente a dissolver-se no amanhã. E o amanhã é bonito. Parece-se cada vez mais com o futuro que estou a construir há meia-dúzia de passados, com o cuidado de um pedreiro desajeitado e inábil, mas perseverante.

O vizinho ganhou. A atitude corporal da rapariga mudou, e o resto também. Parabéns! Tenho doces lembranças de raparigas russas. Uma ligeira ponta de inveja, muito ligeira, aparece. Je l'écarte immédiatement. Não sou invejoso, nunca fui e nunca o serei.


Zagou - Bar-Restaurant du Voyage, 58 rue Daguerre, 75014

O termo viagem, apercebo-me agora, é feminino em português e masculino em espanhol, francês e italiano (talvez em alemão também, mas o meu alemão, que nunca passou do estágio de recém-nascido, é agora uma espécie em vias de extinção). O Zagou tem uma música simpática e um cocktail (Singapore Sling) assim assim.

La Belière, 74 rue Daguerre

A rue Daguerre é uma das minhas favoritas neste Paris de agora. La Belière apresenta-se como um bar de jazz. Uma rapariga, de chapéu e sobretudo pretos, passa por mim. Adoro bruxas, mesmo que sejam jovens e bonitas. O jazz é uma merda (Beatles e  Eric Clapton), mas a Piña Colada é sublime.

Let's, my dear me, go to bed.

Seja Deus louvado.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.