Minha querida Palma de Maiorca,
Sabes que te amo, e muito. Gostaria de ter nascido aqui, de ter conhecido as tuas ruas desde miúdo, de me ter banhado nas tuas águas e percorrido os teus montes a pé, de bicicleta, sozinho ou com o maior amor da minha vida.
Chega porém um momento em todos os amores, por mais amantes que os amantes sejam, no qual a separação é inevitável. Não por tua causa, ou minha, por causa de nada ou de ninguém. Simplesmente a ordem natural das coisas. Uma vida não é feita de alegrias só; contém também algumas separações (como se as separações fossem a única fonte da dor; não são, tu sabe-lo melhor do que ninguém).
Não és a única a dizer-me que o amor não chega. É preciso algo mais. Tens razão. O amor sem um bocadinho de dor, sem um bocadinho de distância, de separação, de - numa palavra - passado não existe, não faz sentido. O amor precisa de tempo (um sinónimo de passado, como sabes) para se reencontrar, encher ou perceber.
Uma vida, minha querida Palma, é feita de passados; e quem to diz é um amoroso de futuros, um gajo que pensa no futuro como alguns coxos na perna que perderam, o mar na praia na qual vai repousar, finalmente, a luz no dia que aí vem.
Mas eu tenho um passado em Antigua (tenho muitos em todo o lado, mas isso é outra história, agora não interessa); e Antigua chama-me como tu me chamaste há uns meses. Antigua chama-me; dói-me.
Não sei quanto tempo vai durar esta dor, ou este chamamento. Mas isso não é importante, pois não? O tempo é um falso curandeiro, dizia Malcolm Lowry, que percebia de curas e curandeiros como ninguém.
Eu acrescento: e uma falsa medida. O tempo não mede nada. A única medida válida, Palma, é a intensidade. A verdade, se preferires.
E tu foste a minha verdade todos estes dias, estas semanas, estes meses. Antigua é a próxima verdade (que sorte saber o que aí vem, para onde vou. É raro).
II
Claro que podes dizer-me "gostas de Antigua porque entre mim e ela há o mar. É mar que procuras, não Antigua; eu tenho mar também".
É verdade que preciso do mar. Tanto quanto pecisei de ti quando aqui cheguei. Sem a terra o mar é nada, sem o mar a terra não acaba nunca, é uma chatice sem fim. Sem o dia de que vale a noite, sem a noite para que serve o dia? Felicidade que não conheceu a dor é mulher que morre virgem, santo sem milagre, vinho sem copo.
III
Preciso de mar. Preciso de Antigua. Precisei de ti, Palma. Espero que compreendas e me desculpes.
Sabes que te amo, e muito. Gostaria de ter nascido aqui, de ter conhecido as tuas ruas desde miúdo, de me ter banhado nas tuas águas e percorrido os teus montes a pé, de bicicleta, sozinho ou com o maior amor da minha vida.
Chega porém um momento em todos os amores, por mais amantes que os amantes sejam, no qual a separação é inevitável. Não por tua causa, ou minha, por causa de nada ou de ninguém. Simplesmente a ordem natural das coisas. Uma vida não é feita de alegrias só; contém também algumas separações (como se as separações fossem a única fonte da dor; não são, tu sabe-lo melhor do que ninguém).
Não és a única a dizer-me que o amor não chega. É preciso algo mais. Tens razão. O amor sem um bocadinho de dor, sem um bocadinho de distância, de separação, de - numa palavra - passado não existe, não faz sentido. O amor precisa de tempo (um sinónimo de passado, como sabes) para se reencontrar, encher ou perceber.
Uma vida, minha querida Palma, é feita de passados; e quem to diz é um amoroso de futuros, um gajo que pensa no futuro como alguns coxos na perna que perderam, o mar na praia na qual vai repousar, finalmente, a luz no dia que aí vem.
Mas eu tenho um passado em Antigua (tenho muitos em todo o lado, mas isso é outra história, agora não interessa); e Antigua chama-me como tu me chamaste há uns meses. Antigua chama-me; dói-me.
Não sei quanto tempo vai durar esta dor, ou este chamamento. Mas isso não é importante, pois não? O tempo é um falso curandeiro, dizia Malcolm Lowry, que percebia de curas e curandeiros como ninguém.
Eu acrescento: e uma falsa medida. O tempo não mede nada. A única medida válida, Palma, é a intensidade. A verdade, se preferires.
E tu foste a minha verdade todos estes dias, estas semanas, estes meses. Antigua é a próxima verdade (que sorte saber o que aí vem, para onde vou. É raro).
II
Claro que podes dizer-me "gostas de Antigua porque entre mim e ela há o mar. É mar que procuras, não Antigua; eu tenho mar também".
É verdade que preciso do mar. Tanto quanto pecisei de ti quando aqui cheguei. Sem a terra o mar é nada, sem o mar a terra não acaba nunca, é uma chatice sem fim. Sem o dia de que vale a noite, sem a noite para que serve o dia? Felicidade que não conheceu a dor é mulher que morre virgem, santo sem milagre, vinho sem copo.
III
Preciso de mar. Preciso de Antigua. Precisei de ti, Palma. Espero que compreendas e me desculpes.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.