É tarde, na rua ouvem-se passos; mas são poucos, hesitantes. Como se a pessoa - em breve saberemos que é uma mulher - nem sempre pusesse os pés no chão. Mal se ouvem, afastam-se devagar, agora um sim agora um não agora outro não. Tu estás deitado. Sabes que os passos vêm da mulher que há pouco deixou o teu leito, com quem há pouco fizeste amor também hesitantemente. Ela agarra-se a ti, aperta-te com força, chora e deixa-te ir.
Pouco depois agarra-te de novo. Tu compreendes que a amas, mas não sabes como dizer-lho, nem mesmo fazendo-lhe amor. Ou então é ela que não compreende, não quer compreender.
A mulher avançava pelo amor como agora pela rua escura, deserta; sabe dar mais do que receber: recebe-te com medo, hesita, abraça-te, suspira, diz "não me ames como eu te amo, cala-te, cala-te".
Tu ouve-la, baixinho e sabes - não é a primeira vez - que dali a pouco ela percorrerá a rua com os seus passos inseguros, como se a cada um quisesse largar a correr e estivesse a lutar contra a tentação. "Ou como se não quisesse ir-se embora", pensas.
"Qures ficar cá esta noite?" "Não, obrigada". Sabes que se chama Teresa e ela sabe que tu te chamas António. Trabalha numa loja das redondezas. É muito tímida, parece que saiu de um filme do Rohmer. Tu gostas desta ideia de um amor secreto, hesitante, silencioso.
Não compreendes bem como começou, nem porquê - não sabes sequer com antecedência quando é que ela vem a tua casa. Ouves a campainha da porta, sempre tarde, depois de jantar, vais abrir, ela diz "Olá" tu respondes "Entra" ela vai directamente para o teu quarto.
A primeira vez era inverno, tu recordas-lhe o sobretudo pesado, antigo, mas bonito. Agora é verão. Ela veste-se "recatadamente", pensaste um dia: blusa ligeira mas opaca e com mangas, um decote pouco profundo, saias pelos joelhos. É muito bonita, com os seus grandes olhos verdes que te olham de frente, sem vacilar.
Quando sai não te olham, sequer. "Não te levantes. Não é preciso. Obrigada."
E ouves o seu passo na calçada, hesitante. "Com que palavras acabará esta história?", perguntas-te.
Sem palavras.
Pouco depois agarra-te de novo. Tu compreendes que a amas, mas não sabes como dizer-lho, nem mesmo fazendo-lhe amor. Ou então é ela que não compreende, não quer compreender.
A mulher avançava pelo amor como agora pela rua escura, deserta; sabe dar mais do que receber: recebe-te com medo, hesita, abraça-te, suspira, diz "não me ames como eu te amo, cala-te, cala-te".
Tu ouve-la, baixinho e sabes - não é a primeira vez - que dali a pouco ela percorrerá a rua com os seus passos inseguros, como se a cada um quisesse largar a correr e estivesse a lutar contra a tentação. "Ou como se não quisesse ir-se embora", pensas.
"Qures ficar cá esta noite?" "Não, obrigada". Sabes que se chama Teresa e ela sabe que tu te chamas António. Trabalha numa loja das redondezas. É muito tímida, parece que saiu de um filme do Rohmer. Tu gostas desta ideia de um amor secreto, hesitante, silencioso.
Não compreendes bem como começou, nem porquê - não sabes sequer com antecedência quando é que ela vem a tua casa. Ouves a campainha da porta, sempre tarde, depois de jantar, vais abrir, ela diz "Olá" tu respondes "Entra" ela vai directamente para o teu quarto.
A primeira vez era inverno, tu recordas-lhe o sobretudo pesado, antigo, mas bonito. Agora é verão. Ela veste-se "recatadamente", pensaste um dia: blusa ligeira mas opaca e com mangas, um decote pouco profundo, saias pelos joelhos. É muito bonita, com os seus grandes olhos verdes que te olham de frente, sem vacilar.
Quando sai não te olham, sequer. "Não te levantes. Não é preciso. Obrigada."
E ouves o seu passo na calçada, hesitante. "Com que palavras acabará esta história?", perguntas-te.
Sem palavras.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.