Hoje comprei uma tartaruga. De pedra, pequenina, um modelo "artesanal" que é feito em St. Lucia, se não me engano. Tenho muitas (todas diferentes, excepto esta. É muito prática, posso andar com ela para todo o lado - até a perder, claro). Destas tenho duas, mas não sei onde está a outra. Provavelmente no Estoril, com o resto das minhas coisas. Gosto muito de tartarugas, são o meu animal fetiche, o meu totem, o meu guia espiritual. A carapaça, por exemplo. A lentidão. A longevidade. Em Bequia há um centro que trata de tartarugas bebés e as liberta quando têm quatro anos. Foi lá que comprei a minha t-shirt verde, aquela que designo por t-shirt da esperança.
As probabilidades de sobrevivência das tartarugas quando saem do centro são muito baixas, mas algumas sobrevivem. Como a minha t-shirt, eu e a maior parte das pessoas. Acaba-se sempre por sobreviver.
Também gosto de elefantes. Em terra são os meus animais favoritos. Por causa da pele, da miopia, da força. Não sei se já viram elefantes de muito perto. Eu já; muitas vezes e de muito muito perto. É uma experiência única, sentir a vida, a força, a energia e pensar que ao mais pequeno grão de areia naquela engrenagem a vida, a força e energia se voltarão contra nós e nos espezinharão como nós esborrachamos uma barata - mas com menos desgosto, menos sentimento.
No Parque Nacional Manuel António não há elefantes, e as tartarugas não se vêem, estão demasiado longe. Só há árvores e macacos e aves, muitas aves, e muitos outros animais para além dos macacos. Mas são pequenos. As árvores não: são grandes, enormes, de todas as formas e feitios. Não sou muito sensível à flora, percebo pouco daquilo, cansa-me.
Mas apesar de tudo isso, apesar dos animais pequenos, daquelas árvores todas adorei o Parque. É de uma beleza que se sobrepõe a tudo o que possamos pensar antes. É fácil gostar daquilo que corresponde aos nossos gostos, aos nossos preconceitos. Muito mais difícil - e fascinante - é quando nos apaixonamos por alguém, ou coisa, ou lugar que não encaixa nas ideias feitas.
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