É noite, cheira a peixe frito, o local onde estou é muito bonito, La Finca del Mar, o barman é francês, chama-se Michael, da "Champagne-Ardennes", se há uma coisa com a qual os franceses são rigorosos é com as origens geográficas, podia ser Champagne, ou Ardennes ou Leste da França ou Nordeste, nada disso. Champagne-Ardennes. Também lhe ensinei a técnica delicada e subtil do ti'punch; não fora o vento (a ausência de vento) a tristeza (a ausência de felicidade) e sentir-me-ia na Martinique.
Já fui muito infeliz na Martinique, não vão os leitores pensar que na Martinique só se pode ser feliz, longe disso; mas é um sítio tão bom para ser feliz que nos esquecemos de quão infelizes lá fomos. E agora, no Casco Antiguo da Cidade do Panamá num restaurante chamado Finca del Mar cujo barman francês viveu em Cuba doze anos bebo um ti'punch e penso que me falta o vento. Tudo se pode substituir, tudo; menos o vento.
Gostava de ter um chapéu como o dos empregados; o Michael garantiu-me que o ceviche é feito como no Peru, o peixe fica sólido, rijo, isto quase podia levar aspas, a citação é quase verbatim, quase, no Panamá acaba sempre demasiado cozido.
Tanto assim é que lhe pergunto se tem um charuto "não", diz ele "mas vou conseguir-lhe um" e pede-o ao senhor da mesa ao lado, por coincidência também francês, deve ser um dos donos.
Gozo o meu charuto a fundo, apesar das desculpas do vizinho da mesa ao lado, "é panamiano, não é cubano"; acho simpático, é curioso como os franceses conseguem este equilíbrio permanente entre ser detestáveis e adoráveis.
Entrou vento, fraco, uma térmica, nada de especial, mas refresca como o charuto panamiano.
Intuitivamente penso em L., claro, penso sempre em L. seja ou não intuitivo.
A minha casa tem duas divisões, a solidão e a tristeza, mas são tantas as vezes que consigo lá ser feliz, nas duas. À vez ou ao mesmo tempo.
Como aqui contigo, como serei em breve, como serei em breve, para sempre.
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