20.7.13

Diário de Bordos - Cidade do Panamá, Panamá, 19-07-2013

Hoje é um dia importante nesta viagem, nesta vida: foi dado o primeiro passo para a travessia do Canal do Panamá.

Ao meio dia e meia hora, quase uma da tarde, um senhor veio a bordo "medir" a embarcação. Não mediu nada excepto a distância da roda de leme ao painel da popa, coisa que até hoje nunca tinha visto e nunca mais, decerto, verei. Mas preencheu montes de papéis, deu-me muitos mais a assinar - se fosse um futebolista ou um cantor célebre nunca mais trabalharia, tantos foram os autógrafos - e aqui estamos: o comboio deixou a estação. Se tudo correr bem daqui a nove ou dez dias atravesso de novo o Canal, desta vez de Sul para Norte, do Pacífico para o Atlântico.

A viagem que me trouxe aqui foi linda, dramática, maravilhosa, terrível, assustadora, determinante. Todas as viagens deviam ser assim (ligeiramente mais felizes, quando muito). Nunca vi tanta vida marinha - golfinhos, baleias, tartarugas, mantas, focas (repetir quase ad nauseam); nunca pensei que o mar não conseguisse curar as maleitas todas, e não conseguiu. Mas foi lindo. Tive uma tripulação maravilhosa, tive vento - muito, pouco, nada - horas de motor, dias maravilhosos, mágicos, desde San Francisco até à chegada ao Panamá.

Agora - após um mês e meio de refit que correu pior do que tudo o que eu tinha imaginado e normalmente bem para as pessoas que conhecem o país - estou de partida. Vou de um oceano para outro, de uma metrópole para um lugar praticamente deserto.

A cidade do Panamá é uma mulher muito feia e horrivelmente atraente que ora cheira mal dos sovacos ora se maquilha como se estivesse a descer os Champs-Elysées na Carrosse Royale. Nunca sabemos se temos de ir ao supermercado comprar desodorizante ou à loja de perfumes comprar Fahrenheit.

"Atravesse o Canal do Panamá e seja feliz!" Podia elaborar este tema a noite toda: "Infeliz? O Canal trata disso"; "Se acha que do outro lado o espera um mundo melhor, experimente o Canal". Canso-me depressa. Começo a pensar naquilo de que um dia lembrarei da minha passagem pela cidade do Panamá, sinal seguro de que estou em modo partida.


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