Nem o mastro nem a grande nem o lazy bag do em breve HELENA S. são os maiores da marina; mas são grandes e não tenho de me envergonhar: passei metade da manhã a aparelhar aquilo sozinho e só me apercebi de quão cansado estava quando um providencial aguaceiro me mandou para o café. Os preparativos vão avançando: M. agora nos molinetes, que precisavam de uma limpeza há muitos anos, C. na electricidade enquanto esperamos as peças para o motor do do Artie, N. e G. na assistência geral e na cozinha, eu nas velas e na administração.
O pêndulo voltou atrás e já sou armador de uma só embarcação, o HELENA S.. O outro voltou para o seu antigo armador. O barco é bom: sanduíche de espuma de alta densidade, leve, uma superfície de pano considerável. Precisa de duas ou três operações cosméticas e pouco mais. Mas pouco mais num barco é uma expressão que engana muito e mantê-lo vai ser um desafio. A ver, como dizia o ceguinho à mulher que era surda, coitada.
Entretanto o dia da largada de Shelter Bay aproxima-se a passos largos. Já estou a planear a viagem, a falar de zarpes e a pensar nas provisões. "A cada um a sua Ítaca", pensei no outro dia, inspirado numa exposição da minha amiga, se bem quase invisível Isabel. A minha tem variado ao longo desta viagem; mais parece miragem do que destino. Começou por ser Quepos, depois Panamá, depois isto e aquilo e depois e depois até voltar a ser o que na realidade nunca deixara de ser, só agora me apercebo: Caraíbas e Mediterrâneo.
Sou dois, sou muitos, "sou o que sou e é tudo o que sou": sou das Caraíbas e sou europeu e sou do mar que os une. O resto é ilusão.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.