Ontem fui a Sintra tomar chá. Fui ao Café Saudade, que é lindo e estava cheio. Depois andei a passear pela vila. Passei à frente do hotel onde, há alguns anos, começou uma história de amor que me deu alguns dos melhores dias da minha vida, e alguns dos piores.
No regresso para Lisboa vim a pensar nas dicotomias que me povoam a vida, tanto que parece serem dela parte constituinte, como se sem elas eu não fosse eu e ela fosse outra: vivo no futuro e sou habitado pelo passado, português e não consigo viver em Portugal, marinheiro a tentar fugir do mar há tanto tempo, visceralmente monogâmico e tantas vezes infiel, extrovertido para esconder a timidez, troglodita sensível, racionalista e intuitivo. Vivo em paz comigo mesmo e sou uma permanente guerra civil.
"Sou o que sou e é tudo o que sou", como dizia Popeye, essoutro marinheiro. E já é de mais.
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Em breve regressarei ao Brasil, a S. Luís. Antevejo com desgosto o mau cheiro das ruas, os dependentes de crack em tudo quanto é canto, o horrível trajecto entre a cidade e o estaleiro, a lentidão de tudo.
E antevejo com prazer a caipirinha ou a cerveja no mercado ao fim do dia, acompanhada por uma saco de caju comprado na loja do lado, os passeios pela praia (de que pouco a pouco vou gostando mais, se bem ainda esteja longe de poder dizer que gosto), as sessões culturais no Centro de Cultura Domingos Vieira Filho (cinema em versão original, teatro, conferências. S. Luís é uma cidade rica culturalmente, e tudo está perto, na meia dúzia de ruas do Centro Histórico).
E, sobretudo, antevejo com impaciência a viagem de S. Luís para a Martinique. Vai ser uma aventura, uma daquelas aventuras a sério, para as quais eu já não devia ter idade e afinal tenho. Que se lixe a idade, é coisa de muito velhos ou muito novos.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.