Lua cheia, um nome num paredão, um óptimo jantar num restaurante chamado 7 Viejas, o mar o mar o mar.
A distância, uma brisa ligeira que para pouco mais serve do que manter os pavilhões dos navios no ar, a noite clara como o futuro: mistura promissora de luz e dor da qual a luz é mais e a dor menos.
Uma embarcação linda numa marina enorme, apinhada, uma palavra que me foge e regressa sorrateira um Gin bebido como se fosse Genever uma vida vivida como se fosse vida um amor fingido como se fosse amor uma noite fodida como se fosse noite, eterna.
Um seio e a mão que lhe toca, metade de cada um, metade de mim e metade de ti e metade da noite e da vida e do tempo do passado (como se tempo e passado fossem duas coisas diferentes. Não são).
A calma que antecede o temporal é um mito, a calma que se lhe segue outro, a calma é um mito. Não há calma, há tempestades e ausência de tempestades. E noites de lua cheia nas quais a distância se transforma num livro num disco num filme num copo de gin exercício da memória assim: uma corda bamba. Uma rapariga na corda bamba. Um homem olha para elas, a rapariga e a corda e pergunta-se qual romperá primeiro. Por baixo uma cidade que existe para ser partilhada uma cidade que só aceita visões aos pares uma cidade na qual passear sozinho não faz sentido porque ela não conhece o sentido da palavra sozinho, uma cidade.
Uma cidade na qual a solidão dói como se fosse memória.
A única vantagem de se viajar sem parar é não haver muitas cidades assim.
As cidades não deviam doer.
É preciso imaginar uma autoestrada de luz no mar e essa autoestrada vem da Lua e vai para sempre. É preciso imaginar uma rosa magoada, um lírio ferido, uma orquídea modesta.
É preciso imaginar uma palavra a escorregar num parque infantil: é assim que elas vêm ter connosco, uma a uma. É assim que o tempo se afasta de nós, gota a gota.
É preciso imaginar a pele como se fosse sofrimento: viva.
É preciso imaginar que a minha casa és tu e que sem ti vivo na rua, na lua cheia, na brisa que faz as bandeiras flutuar como se nos apontassem uma direcção, no restaurante com mais gente da rua, no táxi que me traz para bordo, na música que agora oiço como se estivesses aqui, como se aqui fosse uma ilha nas Cíclades, como se fosse um girassol. A música deve ser um girassol, um giraluna, uma voz, uma nuvem através da qual a lua nos vem dizer boa noite.
Boa noite. Boa cidade.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.