Cada vez gosto mais destas noites sem vento, nas quais os barcos parecem estar suspensos do calor pelos mastros e mal pousam na água.
Invento um jantar - vai sair uma espécie de puré de batata com pimentos e salsa, ou seja: uma espécie de jantar - bebo rum, oiço música portuguesa e penso nesta calma irreal, surda e nua, uma calma sem vergonha, sem luz, sem ruído, sem nada para além do cheiro do jantar que coze lentamente como se fosse o pequeno almoço de amanhã, o pequeno almoço de daqui a uma semana, o pequeno almoço de sempre e de nunca.
A marina é um lago de jardim, a noite uma parede na qual me sinto livre e solto e leve, o tempo uma superfície na qual me derramo como em ti.
Não sei se és o tempo ou foste um tempo. Mas é em ti que penso como se pensar me ajudasse a entrar neste muro que me rodeia, nesta escuridão em que nem o vento entra, nem a luz, nem o som.
Há noites assim, e tus. Mas tu és uma e uma só. As noites são muitas e cada vez mais.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.