Preparo-me para ocupar a cidade logo, com poesia (Ruy Belo, Eugénio de Andrade, Borges); e de bicicleta, agora. Penso na sorte que tenho: uma cidade que me ocupa como poucas no mundo. Uma cidade que se deixa viver e ocupar por um estrangeiro cansado de guerra, um marinheiro cansado de terra, um homem longe e de longe:
Eram de longe.
Do mar traziam
o que é do mar: doçura
e ardor nos olhos fatigados.
(Eugénio de Andrade)
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É uma rapariga de vinte e pouco anos; tem uma banca de café e bolos numa esquina à frente do mercado da Praia Grande. De vez em quando vou lá comprar um café. Nas redondezas são poucas as que o têm sem açúcar.
A banca é pequena, mas há umas poucas cadeiras e juntam-se ali tertúlias várias. De manhã fui lá e o tema da conversa era a Marina Silva, candidata à presidência. "Se for eleita ela não vai autorizar o casamento gay", diz a miúda da banca. "Eu voto Dilma".
Gosto de política, não posso impedir-me de ouvir e participar. Ou pelo menos pensar: o Brasil não terá assuntos mais importantes para resolver do que o casamento gay? Assim de repente ocorrem-me quatro ou cinco, mas tenho a certeza de que se pensar dois segundos me aparecem mais trinta.
As pessoas são fascinantes.
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Quando marquei as datas da viagem a Lisboa não me lembrei das eleições. Agora sei que não estarei aqui durante a fase final, mas chegarei na véspera. Acho que vou ter de adiar o regresso dois ou três dias. A campanha eleitoral - enfim, a parte dela que eu vejo e sobretudo oiço - é insuportável. Imagino como serão as celebrações de vitória.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.