13.10.14

Morte, vidas

Já morri muitas vezes e não me importo nada de morrer mais algumas - desde que sobreviva, claro -.

A primeira foi na Rússia, num navio graneleiro que se estava a afundar numa água na qual não sobreviveríamos mais de dois minutos. Não tínhamos baleeiras, o frio era tanto que os turcos e respectivas talhas estavam congelados.

A última foi no Brasil, há quatro anos, para safar um barco que trazia a reboque meio afundado e cujo cabo de reboque partiu na entrada de um porto.

Aborrece-me falar da morte. É muito chata, nunca mais acaba. Prefiro falar das vidas: mudam, acabam, recomeçam, têm altos e baixos e fins e princípios.

Das vezes em que não morri: quando apanhei um ciclone a trezentas ou quatrocentas milhas da Martinique, por exemplo. Foram três dias, mas nunca tive a sensação de que ia morrer. O bote estava a aguentar-se, a tripulação unida e confiante.

Ou a segunda evacuação de Kindu, uma cidade no Leste do Congo que foi tomada pelas forças de Kabyla pai. Já por aqui contei a história, creio. Também desta vez não me pareceu que podia morrer. O exército zairense estava mais interessado em pilhar do que em matar fosse quem fosse.

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