6.10.14

Café; uma história breve

O vento entrou depois, muito depois. Eu tinha ido comprar café; saí da loja com uma mistura inventada naquele momento: Timor, Nicarágua e Etiópia. Cem por cento arábica: parece de maricas, ou de gajo civilizado. A verdade é que gosto de um bocadinho de robusta na mistura, mas só tinham Angola e prefiro Indonésia.

Saí da loja e parei para acender um cigarro. Ela saiu logo a seguir e foi nesse momento que o vento entrou e lhe levantou a saia. Não se atrapalhou. Tinha começado a dizer-me Você gosta..., alisou a saia e acabou ... de café. Respondi-lhe Você tem pernas bonitas. Quer dizer que não gosta de café? Porquê, acha que as suas pernas não são bonitas? Acho. Eu não, e sim gosto. E podíamos ter ficado ali a discutir as pernas dela e o meu café mas não ficámos.

Fomos beber um café numa esplanada do Princípe Real; e depois jantar e depois ao Hot Club ouvir um gajo qualquer cujo nome não fixei. Nem sequer o vi, na verdade. Ela também gostava de jazz, e tinha um sentido de humor muito bom, mamas bonitas, nem muito grandes nem muito pequenas, um olhar sardónico, saias que se levantavam com o vento, pernas boas.

Depois do Hot fomos para casa dela. Não me perguntou se queria beber um copo, ou café, ou chá, ou ver a colecção de borboletas. Perguntou: Queres vir para minha casa? Quero.

Então vamos.

Fomos. No carro começou a apalpar-me os tomates enquanto me dizia Achas que sou uma puta? Não. Acho que és boa. Há putas boas. Há.

Não sei se já tiveram os tomates apalpados por uma gaja que sabe o que está a  fazer. São poucas, infelizmente. Pensam que os tomates são como as mamas e massajam-nos, não os acariciam como devem ser.

Gosto de mulheres que gostam de música e de mulheres que sabem foder e de mulheres que têm sentido de humor. Esta tinha tudo isso e muito mais. Era professora de literatura alemã na Faculdade de Letras. Vivera em Berlim e conhecia os sítios todos que eu conhecia: a Literatur Haus, claro; o café Einstein; o Zwielben; e mais meia dúzia que entretanto esqueci. Foi há muito tempo. As duas: Berlim e ela.

Um dia disse-lhe: Nunca fodi gajas que gostem tanto de foder como as alemãs. Mas gosto mais das portuguesas. São mais sentimentais.

Menos ávidas, queres dizer. Não. Quero dizer mais sentimentais. É por isso que gosto de ti.

Não devias gostar. Só traz desgostos.

É verdade. Mas também traz muitas alegrias.

Que se fodam as alegrias.

Que se fodam os desgostos.

Poucos dias depois cheguei a casa dela e tinha um bilhete na porta. Dizia: Que se fodam os sentimentos. Não toques e não voltes, por favor. Adeus.

Não voltei, claro. Esqueci-a quase toda. Lembro-me dos cabelos, das mamas, das pernas, de a ver a chupar-me a pila com a cabeleira toda por cima da minha barriga como se fosse uma catarata negra e da mistura de café que comprara no dia em que a conheci.

Não me lembro do seu nome nem do que sentia por ela enquanto conversávamos, nus e saciados, na cozinha que cheirava a café e a sexo.

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