1.11.14

Diário de Bordos - Mértola, Portugal, 01-11-2014

Está muito calor, e esse calor vem de todo o lado: do ar, do vinho que bebemos ao almoço, das ruas de Mértola, tão acolhedoras como sempre.

Pergunto-me se ainda terão fantasmas. Não sei. Logo verei.

Apenas sei o que vejo;  e o que vejo é o cais com um mastro, um só; um dia haverá dois.

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Mértola está deserta; sinto-me no mar.

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A estadia em Portugal está quase a terminar. Em breve regressarei ao Brasil. Depois Texas, Brasil de novo, Caraíbas, Canadá e, final e felizmente, Portugal. Há muito tempo que não tenho um itinerário previsto com tanta antecedência. Há muito tempo que lugar algum no mundo me acolhia como Lisboa me acolheu desta vez. As mudanças de vida são assim: uma mistura de lentidão e celeridade, esforço e inevitabilidade.

Vou pôr os pés em terra; enfim, pelo menos um. O outro ficará no mar. Portugal e o mar: mistura antiga, de provas dadas. Feitos um para o outro, como eu para um e outro.

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Esta escala em Lisboa estava suposta durar quinze dias. Vai para mês e meio. Penso em tudo o que aconteceu, em tudo o que ficou preparado, em tudo o que me espera. Vida destilada: cinquenta e muitos anos de vida que convergem para um ponto, que se condensam, afinam como um queijo ou uma aguardente.

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