Vamos começar pelo princípio: vou pagar caro esta sucessão de viagens de avião agradáveis, com espaço para as pernas e para dormir.
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E agora?
Estou num lolo chamado Chez Coco. Não é o meu favorito mas é o único que está aberto. E tem karaoke, coisa que particularmente detesto.
A rapariga do Arawhak ofereceu-me o segundo ti'punch. À saída do aeroporto encontrei um táxi que me trouxe por um preço correcto. É o vice-presidente da associação de táxis. Pediu-me que se algum táxi me levasse mais de vinte dólares para me levar do aeroporto a Marigot lhe telefonasse.
O Centr'hotel tem quartos.
"Não sou grande fan de karaoke", digo à rapariga do Chez Coco.
"És fan de quê? De escrever?" responde com um sorriso rasgado.
"Tens vinho aberto?"
"Se não tiver abro-o para ti".
Estou nas ilhas.
O dono do Arawhak lembra-se de mim. Recebe-me com um sorriso e um aperto de mão franco, forte, aberto.
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Cortei o cabelo, fiz cartões de visita, comprei pólos brancos e adaptadores para as tomadas, tenho um número de telefone local.
Não está demasiado calor.
E agora?
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Os duches da My Little Guest House são uma merda. Toda a My Little Guest House é uma merda, de resto. Mas custa metade do preço do Centr'hotel (ou seja, é caríssima. Tem muito menos de metade da qualidade).
Gosto do nome. Podia chamar-se My Shitty Crew House, por exemplo. Ou My Lousy Crew House.
E posso cozinhar.
Se bem hoje ainda tenha ido jantar à tasca da colombiana, do outro lado da rua. Mas já tenho pequeno-almoço para amanhã. E todas as refeições serão feitas e comidas na My Shitty Kitchen House.
Vou dormir num quarto colectivo. Não ter dinheiro é uma viagem no tempo.
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A Little Crew House fica na Lagoon Marina. por baixo tem um café / bar / restaurante chamado Lagoonies. Há três anos trabalhava aqui uma brasileira linda como se quisesse provar que a evolução por vezes acerta. Que por vezes há um bocadinho de sentido no acaso.
Agora pertence a um francês e só lá trabalham franceses e uma miúda que não é francesa e me põe a mão nas costas cada vez que me pergunta se quero alguma coisa. Pergunta vezes de mais. Hoje [sexta-feira] tem música ao vivo. Um bom guitarrista, uma cantora, um baixo e um bateria assim assim. Estou à espera que acabe para me ir deitar. Tocam demasiado alto e tenho os ouvidos aos gritos. Querer dormir com este barulho é como ir à praia e não querer ficar cheio de areia.
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St. Martin deve ser um maravilhoso caso para se estudar a convivência de duas culturas diferentes. Holandeses e franceses partilham a ilha desde 1648. Nunca houve fronteiras dignas desse nome - sempre se circulou livremente entre a "parte francesa" e a "parte holandesa". O dialecto local é comum. A ilha é vista como uma cidade, da qual as aldeias ou aglomerados são os bairros, independentemente de estarem de um ou do outro lado da linha.
Mas as diferenças são grandes, espantosas. Quem conhece a França reconhece-a na parte francesa. O memsmo não se passa com a Holanda e a parte holandesa, muito mais caótica, vibrante, suja, rica, pobre.
Em St. Martin come-se melhor. Em St. Maarten mais variado. Os negócios estão do lado holandês. A qualidade de vida do lado francês. Os holandeses interferem muito pouco no governo da ilha. Os franceses começaram agora uma tímida, muito tímida tentativa de descentralização - que a administração local aproveitou para criar um imposto, claro (que de resto se compreende. Estes territórios viviam à custa de transferências da "metrópole", daí a qualidade de vida) .
É um pouco como ter dois jardins lado a lado: um à francesa e outro à inglesa.
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A mistura de chateado e excitado com a qual vim para aqui começa a esbater-se. Fica a excitação, a luta, a adrenalina, o desafio.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.