9.6.15

Rigor, ausência

Há que ser rigoroso. Em tudo: no excesso e na falta dele; no vigor - que seria do vigor sem rigor?  - no caminho e nas margens que, como quase alguém dizia, o oprimem.

Sobretudo nas margens: é preciso delinear rigorosamente os olhos que te olham, os braços que te acolhem, os ventres pelos quais avanças como uma nota de música que fugiu da pauta.

Há que ser rigoroso: saber dos caminhos os èsses. Nunca, por exemplo, deixar uma garrafa de vinho a meio. Pode perder-se no balanço. Nunca deixar por amar um corpo não vá a cabeça perder-se.

Amar rigorosamente: começar no meio e acabar nas pontas sem nunca passar para fora. Traçar o contorno da pele e imaginar que o desejo se alimenta ali: naquela linha que a língua, as mãos, os olhos traçaram, rigorosamente.

Não sei se prefiro o rigor ou o excesso.

Uma ausência não tem pele, mas tem rigor. Haverá ausências excessivas?

(Para a Sofia, com ternura).

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