Vento e frio outra vez. Trinta e cinco nós na marina. A única coisa que me apetece dizer é "Porra! Estou farto". E digo-o, aos altos berros no silêncio da minha cabeça: "Porra! Porra! Porra! Estou farto!"
Ninguém me ouve, claro. De qualquer forma seria inútil ir gritar para o convés ou o pontão. Ser ouvido não resolve nada, nestas circunstâncias. Noutras sim, às vezes. Mas reclamar contra o vento e a chuva e o frio não. Nunca funciona.
De maneira olha, vou fazer um cozido andaluz. Vou não, já estou a fazer. Um belíssimo naco de carne de guisar, um outro de toucinho - mas só a gordura, nada mais - um chouriço espanhol e mais meia dúzia de coisas que Pepe, o dono do talho Pepe à calle Clavel me vendeu hoje, juntamente com uns torresmos divinos e umas pastillas marroquinas que os tripulantes já provaram e dizem ser da mesma ordem dos chicharrones. Não sei. A minha está a aquecer agora; daqui a dez minutos saberei.
E depois vai ser cama cedo, que a noite de ontem cumpriu. Tapas na Bodeguya (Calle San Pablo 3) e copos no Bodegón Antoñito (Doctor Villar, 17). Com o que já tínhamos bebido a bordo o quadro ficou bem composto, e nós ao contrário.
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De qualquer forma domingo largamos. Até ao Funchal a máquina tem tempo de recuperar. E depois três semanas até St. Martin. E depois mais uma até ao Panamá. Desta vez o soma não se pode queixar. Vai estar muito tempo a água.
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O badanal piora e a pastilla estava uma delícia. Dupla confirmação, mas de sentidos opostos. Uma boa e outra que só dá vontade de gritar "Porra! Estou farto!"
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A rede na marina é um nojo. A dobrar: péssima e cara. Quando é que os espanhóis perceberão que para uma marina não ter net é como não ter água ou electricidade?
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.