17.4.16

Diário de Bordos - Cidade de Panamá, Panamá, 16-04-2016

Tarde em Panamá. Casco Viejo para começar. Bebo um mojito no Rana Dorada. É o melhor mojito que jamais bebi e está hoje igual ao primeiro, vai para três anos.

Venho para a esplanada. O ar está quente e húmido, denso como uma piscina de água ligeira. A Luz fez-me uma festa sincera. Nunca falei muito com ela - deve ter mais que fazer do que aturar marinheiros melancólicos, solitários e longe de uma casa que não têm - mas simpatizamos um com o outro. Eu com a eficácia dela e ela, provavelmente,  com o facto de eu não ser chato: encomendo (sempre a mesma coisa: um mojito sem açúcar - hoje ela recomendou ao barman que não se esquecesse desse pormenor -) bebo, re-encomendo, pago, agradeço e vou-me embora. E volto. Se calhar isso contribui para a simpatia, tanto a de um como a da outra.

Continuamos - estou com o R. - para o circuito habitual. Não é por acaso que gosto tanto dos Passos em Volta. Paradoxalmente não vejo isto como um regresso ao passado, um passeio do triste ou viagem pela memória. É uma espécie de futuro retroactivo. Já aqui estive, num momento particularmente difícil da minha vida e consegui construir laços com isto. Na altura não me apercebi, só agora o vejo. Posso voltar a Panamá quando quiser porque já aqui estive, porque já aqui fui o que sou. Em francês há um tempo verbal chamado futur passé (futur antérieur para os puristas, chatos et simili). É o meu tempo verbal favorito. Tão pouco por acaso, claro. O meu presente (a minha vida?) são uma mistura permanente de passado posterior e futuro anterior.

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Não gostei do Panamá quando cá cheguei porque estava mal e agora gosto porque estou bem. Il ne faut pas chercher midi à quatorze heures.

Mas talvez convenha aprender a olhar.
Isto é, a meta-olhar.

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Daqui a pouco voltamos para Shelter Bay. Táxi para Albrook, camionete para Colon, táxi para a marina.  Três horas de trajecto na pior das hipóteses,  duas na melhor e uma quantidade estúpida de dólares em ambas.

Enfim. Refuto o estúpida. Não há nada de estúpido em andar às volta do tempo.

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O Casco muda a um ritmo impressionante. A cada visita que faço está mais bonito. Restaurantes modernos, bares design, lojas de moda, mobiliário BCBG.

Qualquer dia de tão bonito fica infrequentável.

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.