É Agosto e estou cansado; a noite merecia um sweater: está fresca, pelo menos na rua. É a última em Portimão. Resolvo descobrir um restaurante, já que daqui a pouco vou descobrir um bar. Não sei o que quero: "um restaurante que não conheço" é inoperacional, até para mim.
Acabo no Terezinha, recomendável ainda antes da segunda visita, que não sei quando será.
A espanhola da mesa ao lado é gira de cair; os carapaus estão excelentes; o preço quase me envergonha de tão decente. Já lhes perdi o hábito.
Portimão é uma cidade na qual é fácil perdermo-nos e regra geral desagradável. Hoje não me perdi. Encontrei.
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A cantora não tem mamas mas é muito mais sensual do que noventa e nove por cento das mamalhudas que conheço. Canta bem, se bem já tenha ouvido e convivido com quem cante melhor (ajuda à sensualidade).
Fazendo contas a noite é óptima: o sítio um achado, parece a sala de estar de um gajo que acabámos de conhecer na rua e se revela exímio guitarrista; a mulher gira e boa cantadeira; a escolha de músicas é assim assim: agora vem uma do Pichinguinha, numa gaja que olhando para ela ninguém diria que conhece mais do que Roberto Carlos ou aquele anão da mesma altura. Outras vezes é fado ou música de Cabo Verde (ela avisou: vai ser uma noite lusófona); a assembleia é digna, mais do que digna: não me sinto nem avô nem neto de ninguém.
A fazer uma apreciação técnica diria que o guitarrista (e dono da casa) é o melhor. Mas isso seria um tecnicismo irrelevante, deslocado. O percussionista tão pouco é fraco, antes pelo contrário. É bom que se farta. É o baterista de um grupo chamado Trovante, de que nunca fui excessivamente fã mas tem muitos (fãs).
A música tem uma função nobre: tornar possíveis noites como esta. O resto é conversa de chacha.
(Noites como esta: uma cantora gira num bar improvável com um guitarrista óptimo e um percussionista idem a beber Bayley's, véspera de ida para Lisboa e de aliciantes aventuras, às portas de novos mundos e novas vidas).
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(Noites como esta: computador sem wifi. Há por aí muita gente a respirar de alívio. Isto de um gajo poder mandar e-mails quando lhe apetece (ou quando precisa) tem meia dúzia de espinhas. Ou uma dúzia.)
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(Noites como esta: ensino o jovem e stressado barman a fazer um ti'punch e arremato com a história do "Chacun prépare sa mort". Só tem Bacardi branco, mas sabe-me como se estivesse no Comme à la Maison, no Marin e em vez de um jovem, magro e tenso barman tivesse aquela senhora minúscula, gordissima e descontraída cujo nome esqueci, lamentavelmente. Enchia-me os pratos com tanta comida que tinha de deitar metade fora, às escondidas dela.
Talvez o jovem barman pudesse inspirar-se no exemplo da senhora e encher-me os copos...?)
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