O carregador do telefone deixou de carregar; o computador decidiu começar a actualizar-se e a este ritmo chega amanhã à guerra dos Cem Anos; estou demasiado cansado para me chatear...
O budismo é resultado do cansaço, sempre suspeitei. Tanta sageza não pode ter uma origem normal.
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Não sou eu que gasto demasiado dinheiro. É o país que é caro. Ou pelo menos a parte dele por onde ando.
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"Como consegues sair de casa sem um livro?" perguntaram-me há uns anos. É em momentos como os de hoje que vejo a pertinência da pergunta.
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Os empregados da Taberna del Pintxo são todos magríssimos. Não admira: nunca ninguém viu um gordo fazer atletismo.
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Quando aqui cheguei tinha fome, o telefone um bocadinho de carga, o computador estava apagado e não sabia ainda que ia "actualizar-se", coitado.
Sobretudo, a senhora de verde da mesa ao lado estava sentada com as costas direitas e o rabo espetado, provavelmente a posição mais erótica que uma senhora pode ter num lugar público fazendo simultaneamente figuras felizes (isto é, não fazendo figuras tristes).
Tudo mudou: as costas de senhora encurvaram-se (e depois saiu), o telefone emudeceu e assim ficará até eu encontrar um carregador, o computador chegou finalmente ao século vinte e um (pelo menos espero - [não chegou]), a minha fome foi-se num dilúvio de pintxos.
Duas horas mudam um mundo.
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Amanhã estou em Lisboa.
(Esta é a coisa mais importante que escrevi nos últimos duzentos e cinquenta anos).
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.