10.9.16

Nicles, emoção

Imagine o leitor (o género é específico) que se apaixona por uma jovem senhora - as senhoras são sempre jovens; há mulheres que não são jovens e jovens que não são senhoras, mas isso é outra história - e ela corresponde.

Não falo de um jovem senhora qualquer. Falo da mulher da sua vida, para usar o cliché, inexacto como todos os clichés e igualmente confortável. Ela corresponde (por vezes acontece).

O leitor prepara-se para a noite inaugural: lava os dentes pela primeira vez nessa semana, repara nas nódoas da camisa e muda-a, lamenta não ter tido tempo de comprar a água de Colónia que por azar acabou o ano passado. Essas coisas que todos os homens fazem perante a feliz conjunção de senhora da vida deles e primeira noite.

E nicles. Nicles oberlix. Nada. Niente. Zero. O bispo recusa-se à missa, o palhaço ao circo - dê-lhe o leitor o nome que der, o resultado é o mesmo: uma enorme, esmagadora mistura de embaraço e frustração -.

(Há quem diga que essas coisas acontecem mais frequentemente quando o amor é verdadeiro e nós homens estamos subjugados pela emoção. É uma tese que eu partilho, apesar de não ter tido verdadeiros amores em quantidade suficiente para a legitimar).

Pois bem: ontem aconteceu-me uma coisa muito semelhante mas com um jantar. Não estava propriamente horrível. Estava só uma porcaria. E logo não para uma mas para as duas senhoras da minha vida (a que aí vem). Há tanto tempo que não falhava um cozinhado que já nem me lembrava como é - uma enorme mistura de embaraço e frustração -.

Espero que elas acreditem naquela coisa da emoção e tal. 

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