5.1.17

Diário de Bordos - Lisboa, 04-01-2017

Nevoeiro cerrado. Quase se vê a luz dos candeeiros empurrar as nuvens ou se ouve estas a gritar a cada picadela de um mastro.

Eu gosto. A temperatura subiu, o vento caiu, a doca está mais calma. Há momentos em que não se ver ao longe é uma bênção. Ser impedido de ver longe. Sem vento não se vai a lado nenhum, não é? Que sorte.

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Jantar em casa de A. G. Soberbo. Os dois filhos mais velhos levam-me cada um deles a um ponto diferente do meu passado. Interessante conversa com H. sobre os sinais de distinção social, coisa que abomino em Portugal. (Passo pormenores. Não me são abonatórios). A. e H. vêm daquele ponto subtil e frágil em que a alta burguesia encontra a nobreza. Ficaram com a melhor parte do negócio: a inteligência, o humor e a simplicidade da nobreza. Do resto não reza a história.

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Acabo finalmente A Short History of Myth, de Karen Armstrong. Vou relê-lo de seguida e depois falo. Até agora: não percebeu que o século XX também produziu mitos: o marxismo, o ambiente. A diferença é que esses mitos têm agora força política. Isto é, a tragédia deixou de ser mítica.

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