9.1.17

Legível, desde sempre

Escrever na casca de uma árvore viva uma longa declaração de amor. Não me refiro àqueles estúpidos e adolescentes corações atravessados por uma flecha. Não: uma verdadeira declaração de amor: "Amo-te porque és a única solidão na qual a minha se reconhece; o único futuro no qual o meu passado se reencontra com o teu; o único olhar que sabe para onde estou a olhar. A única pele com a qual me poderia cobrir, os únicos braços nos quais me sinto livre, os seios que cabem nas minhas mãos sem as encher de perguntas, porque és as respostas às perguntas que não sabia sequer quais eram até te amar". Etc., por aí fora.

Uma declaração que cresceria com a árvore: cada ano acrescentaria um parágrafo, uma razão para amar, uma imagem, uma expressão de desejo. Como um anel dos que estão no interior do tronco.

Um amor legível: um dia alguém cortaria essa árvore e com ela faria uma quilha, a cumeeira de um telhado e a declaração lá estaria, para sempre. Desde sempre: talvez tivesse nascido com a árvore. 

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