Descrever esta longa subida que ele (ou ela, se for mulher) desce, ao contrário do que seria de esperar. Como se se tivesse enganado na escada rolante e teimasse em descer a que sobe ou subir a que desce. Primeiro apoia-se numa bengala mas esta parte-se. Demasiado peso. Arranja um chapéu de chuva. É verão: as pessoas olham surpreendidas. Surpreende-se por sua vez com a surpresa nos olhos dos outros. É óbvio que se está de chapéu de chuva é porque a bengala se partiu. Se não é devia ser. Não é. Nada é óbvio, nunca. Por isso as palavras ou à falta delas a indiferença.
Engana-se sistematicamente nas escadas e nos tapetes rolantes, nas casas de banho - entra nas das mulheres se é homem ou nas dos homens se é mulher - nas portas de entrada ou saída dos autocarros.
Não se apercebe do que está errado. Isto é: sabe que está no sentido ou no lugar errados, mas quando refaz a sequência das acções que o ou a levaram ali não encontra senão uma série de inevitabilidades. Como se a vida fosse um caos. "Pelo menos não tenho as calças demasiado curtas ou a saia demasiado longa ou o decote fora de moda ou o casaco puído". Vá lá. Nem tudo está perdido: pelo menos não tem as calças ou a saia erradas. Anda de chapéu de chuva no verão e tenta subir a escada que desce, mas pelo menos tem as calças ou a saia certas. Vá lá.
Chega finalmente ao cimo. O chapéu de chuva partiu-se. Começou a chover. Escorrega e vem parar cá abaixo num ápice porque agora sim, está na escada certa. Acabaram-se as peripécias e a chuva. Volta para cima. Alguém o espera. Um homem ou uma mulher. Seja quem for é quem ele ou ela quer que seja.
Por breves instantes o mundo deixa de ser um caos: a dois há ordem, breve que seja. Respira. Promete não voltar a enganar-se nas escadas, nos tapetes, nas portas.
Agora a dois. Agora adeus.
A dois o caos não desaparece. Muda de nome, simplesmente.
Mary Poppins, não te vás embora. Olha para trás, pelo menos. O teu chapéu funciona tão bem. O meu não. Partiu-se. O céu muda de cor consoante a direcção para a qual olhamos. Depende do Sol e das núvens, não de ti ou de mim.
A dois. Adeus. Mudar de caos é mais fácil do que mudar o caos. Uma longa subida que desce? Vida. Escolhe: sobe, desce, engana-te, cai, levanta-te. A dois. Adeus.
Nem os gémeos nascem ao mesmo tempo.
Engana-se sistematicamente nas escadas e nos tapetes rolantes, nas casas de banho - entra nas das mulheres se é homem ou nas dos homens se é mulher - nas portas de entrada ou saída dos autocarros.
Não se apercebe do que está errado. Isto é: sabe que está no sentido ou no lugar errados, mas quando refaz a sequência das acções que o ou a levaram ali não encontra senão uma série de inevitabilidades. Como se a vida fosse um caos. "Pelo menos não tenho as calças demasiado curtas ou a saia demasiado longa ou o decote fora de moda ou o casaco puído". Vá lá. Nem tudo está perdido: pelo menos não tem as calças ou a saia erradas. Anda de chapéu de chuva no verão e tenta subir a escada que desce, mas pelo menos tem as calças ou a saia certas. Vá lá.
Chega finalmente ao cimo. O chapéu de chuva partiu-se. Começou a chover. Escorrega e vem parar cá abaixo num ápice porque agora sim, está na escada certa. Acabaram-se as peripécias e a chuva. Volta para cima. Alguém o espera. Um homem ou uma mulher. Seja quem for é quem ele ou ela quer que seja.
Por breves instantes o mundo deixa de ser um caos: a dois há ordem, breve que seja. Respira. Promete não voltar a enganar-se nas escadas, nos tapetes, nas portas.
Agora a dois. Agora adeus.
A dois o caos não desaparece. Muda de nome, simplesmente.
Mary Poppins, não te vás embora. Olha para trás, pelo menos. O teu chapéu funciona tão bem. O meu não. Partiu-se. O céu muda de cor consoante a direcção para a qual olhamos. Depende do Sol e das núvens, não de ti ou de mim.
A dois. Adeus. Mudar de caos é mais fácil do que mudar o caos. Uma longa subida que desce? Vida. Escolhe: sobe, desce, engana-te, cai, levanta-te. A dois. Adeus.
Nem os gémeos nascem ao mesmo tempo.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.