7.5.17

Diário de Bordos - Horta, Faial, Açores, 07-05-2017

Devagar - demasiado devagar, mas quando não o é? - a lista de afazeres vai diminuindo. Só faltam as duas coisas mais importantes e algumas das menos. Terça-feira largamos, salvo tremor de terra, tsunami ou ataque de cachalotes.

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Um Amel atracou a nós e fez alguns riscos no casco, nada de especial. O que me desagradou profundamente foi não terem passado um cabo a terra. Estava vento - o que de resto explica os riscos - e o mínimo teria sido passarem um lançante a barlavento. E deixaram as defensas muito baixas.

Hoje de manhã fui falar-lhes dos riscos. Começaram por negar mas depois lá aceitaram. A seguir mencionei o lançante. É o mínimo. Emberlificotaram-se (eram franceses, claro) em explicações.  Encomendaram ao Harry, que me está a tratar das vigias o trabalho de polimento dos riscos, mas veio a bordo explicando-me que "não queria que eu mandasse refazer o meu casco todo". Isto um gajo que no meio dos emberlificotanços me disse que navegava há quarenta anos. "Comecei aos quatro ou cinco".

São franceses, claro. Custa-me dizer isto - por um lado detesto generalizações, por muito necessárias que sejam; e por outro alguns dos meus melhores amigos são franceses - mas se há raça que devia ser proibida de navegar (excepto em competições como a Vendée Globe) são eles.

O idiota não percebeu que bastaria ter dito "desculpa" para eu me marimbar nos riscos do casco, no lançante, nas defensas e na sua (deles todos) profunda ignorância. E que devia aprender a não medir os outros pela sua miserável bitola.

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Mais não sei quanto tempo no galope do mastro. Fiz um lais de guia que se desfez e agora vamos com cinquenta metros de filaça e um chumbo de pesca dentro do pé do mastro.

É por estas e por outras que não me chateio com os erros dos outros: reservo essas fúrias para os meus, tantos que são. 

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