19.5.17

Diário de Bordos - La Linea, Andaluzia, Espanha, 19-05-2017

O corpo já esqueceu os excessos licoristas de Cádiz. A cabeça não e a verdade é que tenho bebido muito pouco Licor de Hierbas, dádiva das ilhas Baleares ao mundo. Este período de luto está quase a acabar, espero.

Hoje descobri que o Bodegón Antoniño não tem net - ontem escrevi à mão porque o telefone e o computador estavam a carregar -; jantei umas tapas, muito mais perto do excelente do que do bom e vim para a Serrana, lá perto.

Já ouvira falar desta casa, mas nunca cá tinha vindo. Tem net, barulho, uma carta vasta e é grande. Aqui espero penosamente que o meu computador reinstale pela quinquagésima milésima vez o sistema operativo. Se alguém um dia pensar em comprar um laptop Asus atire-se da Boca do Inferno antes. Não morre, poupa uma data de massa e - sobretudo - poupa chatices e tempo perdido e até talvez engorde um bocadinho (acabo de encomendar uma segunda tapa de presunto totalmente inútil não fosse a má consciência de ocupar uma mesa à hora de ponta com um copo de vinho - e licores de hierbas, mas esses ao contrário da tapa não são inúteis).

Fiquei pelo menos a conhecer o Orujo, ao qual reconheço algumas qualidades, insuficientes para o pôr ao nível do mencionado licor.

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Já ao tempo que aí vem não reconheço qualidade nenhuma.

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A Serrana é uma casa barulhenta cujo presunto é sublime. Saboreio a minha segunda tapa do dito lentamente, como se o sabor fosse uma borracha para o barulho.

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A questão que me preocupa é: onde passar o Verão?  A confusão em mim é maior do que a da casa Serrana, difícil de imaginar e mais ainda de acreditar. Genève!, gritam alguns neurónios; Douro!, outros. Escócia  (Se se confirmar)! Grécia  (idem)!

Mértola, grito eu. Ou Burgau. Ou Trás-os-Montes. Madeira. Açores. Não preciso de muito: net, bom vinho e alguns petiscos. Uma empregada de café gira, se possível. Um computador que funcione. Livros. Tudo coisas que se conseguem em qualquer sítio.

Menos em mim, claro, que da palavra paz só conheço a parte que vem de incapaz.

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Enfim. O computador computa e eu bebo Licor de Hierbas. Parece-me um bom compromisso: cada macaco no seu galho. Felizmente comprei Paracetemol antes de vir para aqui, de modo a dor de cabeça pelo menos não crescerá.

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Hoje comprei um blusão de couro. Diz que é de carneiro. Parece que tem qualidades: não mancha quando chove. Provavelmente conversa de vendedor.

Fui mais sensível ao preço: cem euros por uma coisa de que de vez em quando preciso (se bem em Lisboa tenha um, mais bonito e clássico, passe a redundância). Se durar vinte anos, como espero, terá valido a pena. É macio e agradável ao tacto. Só isso já vale metade do preço.

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A continuar assim o reset do computador Asus vai durar uma quantidade obscena de licor. Felizmente tenho tomado os comprimidos religiosamente. Dois por dia. Se não aposto que explodiria.

Ou eu o a Serrana,  claro. Estou aqui vai para mais de uma hora e a coisa está a trinta e um por cento. Com sorte talvez mo deixem ficar para amanhã ou depois (vade retro, Satanas)

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Há homens que usam uma espécie de carrapito na cabeça e não só sobrevivem ao ridículo como parece não se aperceberem dele.

Ou é fraqueza de um ou inconsciência do outro.

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Alguém me pode explicar quem reclamou contra as mini-saias quando aquela inglesa cuja canonização deve estar para breve as introduziu  (no pun intended)?

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