Uma vez em Genebra fui comprar a República, de Platão. O diálogo com a empregada da livraria foi assim: (verbatim, traduzido): "A República de Platão. E quem é o autor?" "Platão". "Ah, muito bem. Quer então a República de Platão por Platão. Vou buscar o livro".
Começo por aqui para não ser acusado de capitalite. Desesperos há-os em todo o lado. Hoje andei à procura de uma versão portuguesa de On Liberty, de Mill. Fui às duas principais livrarias da cidade. Nenhuma das pessoas que me atendeu conhecia o livro ou o autor.
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"A cidade é feia todos os dias", diz-me I., que aqui nasceu e vive. Tem razão. Mas percebo-a: é fácil gostar desta arquitectura caótica, mistura de mau gosto dos anos setenta com ruínas dos séculos passados, destes sítios clássicos a que nem a jovem idade dos empregados ou a intervenção de arquitectos conseguem estragar a patine ou a magia. É como amar uma mulher feia que passou por muitas coisas: olha-se para ela e sonha-se com o passado. A fealdade desaparece, transformada em desafio.
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A rapariga que me atende na loja de roupa onde vou comprar uma camisola - o Verão fez um recuo estratégico e está frio - é pequenina, bonita, despachada, competente e dá-me troco às piadas; ontem tive uma estimulante conversa com uma jovem de vinte e quatro anos - a quem vou oferecer On Liberty, não por proselitismo mas por vício pedagógico -; as queixas sobre "a juventude" são provavelmente as mais antigas do mundo (há uns anos encontraram um texto cuneiforme com dois ou três mil anos cujo tema era a degradação dos jovens, que "só pensam em dançar") e as mais injustificadas.
Verdade que para mim é fácil gostar cada vez mais de jovens: basta-me olhar para o mundo poluido pelo plástico e pela praga do politicamente correcto, inundado de televisão e conspurcado pelo automóvel que a minha geração lhes vai deixar para ter pelo menos recato antes de os criticar.
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Uma coisa é certa: se alguém quando eu tinha dezoito anos me tivesse dito que aos sessenta estaria de novo a lutar pela liberdade eu não teria acreditado.
Começo por aqui para não ser acusado de capitalite. Desesperos há-os em todo o lado. Hoje andei à procura de uma versão portuguesa de On Liberty, de Mill. Fui às duas principais livrarias da cidade. Nenhuma das pessoas que me atendeu conhecia o livro ou o autor.
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"A cidade é feia todos os dias", diz-me I., que aqui nasceu e vive. Tem razão. Mas percebo-a: é fácil gostar desta arquitectura caótica, mistura de mau gosto dos anos setenta com ruínas dos séculos passados, destes sítios clássicos a que nem a jovem idade dos empregados ou a intervenção de arquitectos conseguem estragar a patine ou a magia. É como amar uma mulher feia que passou por muitas coisas: olha-se para ela e sonha-se com o passado. A fealdade desaparece, transformada em desafio.
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A rapariga que me atende na loja de roupa onde vou comprar uma camisola - o Verão fez um recuo estratégico e está frio - é pequenina, bonita, despachada, competente e dá-me troco às piadas; ontem tive uma estimulante conversa com uma jovem de vinte e quatro anos - a quem vou oferecer On Liberty, não por proselitismo mas por vício pedagógico -; as queixas sobre "a juventude" são provavelmente as mais antigas do mundo (há uns anos encontraram um texto cuneiforme com dois ou três mil anos cujo tema era a degradação dos jovens, que "só pensam em dançar") e as mais injustificadas.
Verdade que para mim é fácil gostar cada vez mais de jovens: basta-me olhar para o mundo poluido pelo plástico e pela praga do politicamente correcto, inundado de televisão e conspurcado pelo automóvel que a minha geração lhes vai deixar para ter pelo menos recato antes de os criticar.
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Uma coisa é certa: se alguém quando eu tinha dezoito anos me tivesse dito que aos sessenta estaria de novo a lutar pela liberdade eu não teria acreditado.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.