As pessoas que têm o azar de ler regularmente este blogue sabem a admiração intensa e profunda que eu tenho pelo Serviço Nacional de Saúde. Não é blague nem ironia: tenho sido extremamente bem tratado pelos nossos médicos, enfermeiros, ajudantes de enfermeiro e pessoal administrativo. Um neo-mega-hiper-ultra-liberal é uma pessoa que primeiro vê e depois pensa, não uma que só vê o que a ideologia lhe diz para ver.
O SNS tem defeitos operacionais que decorrem em parte de ser um serviço gratuito - o que não se paga com dinheiro paga-se com tempo e "mau aspecto" (vistos de fora alguns dos nossos hospitais parecem ilustrações de livros do Dickens; uma vez lá dentro pedem meças a qualquer um) e noutra parte da deficiente organização da nossa vida pública.
Quando saí da até agora única longa estadia num hospital (uma semana), o senhor que me tinha dado a possibilidade de ser operado naquele estabelecimento e não no que me cabia em sorte (a chamada cunha) perguntou-me o que tinha eu pensado do pessoal. "Médicos: muito bom; enfermeiros: bom; auxiliares de enfermagem: suficiente menos a medíocre", respondi. "Pois", retorquiu. "Os hospitais não podem contratar auxiliares de enfermagem. Trabalham a recibos verdes, muitos deles. E como o regime desses recibos não lhes permite ficar mais de seis meses no mesmo sítio passam a vida a mudar. É impossivel".
(Isto não faz sentido nenhum, se não nos lembrarmos de uma série de coisas).
Bom, mas tudo isto para exprimir a minha gratidão ao SNS, que lá vai fazendo o que pode para me manter a carcaça mais ou menos em condições; e ao meu médico de família. Se eu fosse mulher casava-me com ele (e se mais novo com a jovem médica que hoje o acompanhava).
Não há ideologia que ofusque este facto simples: as coisas que não funcionam em Portugal têm a ver com a nossa organização colectiva; as que funcionam têm a ver connosco enquanto pessoas, com cada um de nós. Viva o SMS, o Centro de Saúde de Cascais e quem lá trabalha. Abaixo os ministros, sub-ministros e restantes sinistros.
O SNS tem defeitos operacionais que decorrem em parte de ser um serviço gratuito - o que não se paga com dinheiro paga-se com tempo e "mau aspecto" (vistos de fora alguns dos nossos hospitais parecem ilustrações de livros do Dickens; uma vez lá dentro pedem meças a qualquer um) e noutra parte da deficiente organização da nossa vida pública.
Quando saí da até agora única longa estadia num hospital (uma semana), o senhor que me tinha dado a possibilidade de ser operado naquele estabelecimento e não no que me cabia em sorte (a chamada cunha) perguntou-me o que tinha eu pensado do pessoal. "Médicos: muito bom; enfermeiros: bom; auxiliares de enfermagem: suficiente menos a medíocre", respondi. "Pois", retorquiu. "Os hospitais não podem contratar auxiliares de enfermagem. Trabalham a recibos verdes, muitos deles. E como o regime desses recibos não lhes permite ficar mais de seis meses no mesmo sítio passam a vida a mudar. É impossivel".
(Isto não faz sentido nenhum, se não nos lembrarmos de uma série de coisas).
Bom, mas tudo isto para exprimir a minha gratidão ao SNS, que lá vai fazendo o que pode para me manter a carcaça mais ou menos em condições; e ao meu médico de família. Se eu fosse mulher casava-me com ele (e se mais novo com a jovem médica que hoje o acompanhava).
Não há ideologia que ofusque este facto simples: as coisas que não funcionam em Portugal têm a ver com a nossa organização colectiva; as que funcionam têm a ver connosco enquanto pessoas, com cada um de nós. Viva o SMS, o Centro de Saúde de Cascais e quem lá trabalha. Abaixo os ministros, sub-ministros e restantes sinistros.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.