25.9.17

Léxicos e linhas

Há quem chame "rabanada de vento" a uma rajada (são os mesmos que dizem "uma âncora" em vez de "um ferro" ou pensam que um hélice é feminino e usam o artigo correspondente: "a hélice", expressão que soa mal, fere os ouvidos e a alma de quem a ouve).

Pouco importa. Aos terráqueos os franceses chamam "elefantes" (em francês, claro) porque não sabem andar a bordo e ainda menos falar. Não nos preocupamos muito com eles, excepto quando nos vomitam o sofá ou nos obrigam a ter um olho permanente neles não vão passar ao charco e fazer-nos voltar atrás.

Hoje estou preocupado com os fazedores de puzzles. Aqueles complicados, de cinco mil peças das quais quatro mil são mar e as outras céu ou prados verdes ou deserto.  Toda a gente sabe o trabalho que dão; e de repente vem uma estúpida de uma rajada de vento ou o remoinho de um hélice e manda-nos as peças todas para o fundo, onde parece que vão ficar fundeadas com ferros de cinquenta quilos (cada peça).

Um marinheiro, sendo basicamente um gajo que se sabe o mais fraco elo da cadeia e - simultaneamente - o mais forte encolhe os ombros, amaldiçoa duas ou três gajas que num passado mais ou menos distante lhe lançaram um mau olhado  (ou uma gonorreia, vá lá saber-se) e começa a ir ao fundo recuperar as peças uma a uma, põe-as à sota de uma antepara para não voltar a acontecer - sabendo perfeitamente que vai voltar a acontecer por outra razão qualquer - e recomeça a merda do puzzle.

Há quem ache isto louvável. Eu não. É simplesmente inevitável e a linha que separa o inevitável da estupidez é muito fina. Tanto como a que separa a vida da morte.

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