Arnaldo tem uma perspectiva solitária da pobreza; e outra, diferente mas complementar, pobre da solidão. Oscila entre as duas porque não sabe de onde melhor poderá analisar a sua vida. Além do mais é doente, mas isso ele não inclui nos dados para análise para não aumentar a complexidade do problema. Arnaldo é um homem simples, está visto e dito.
Todas as tentativas que faz para deixar de ser pobre, só (e doente) falham. Falta-lhe, pensa ele, uma visão clara das causas dessa situação e um real desejo para a alterar.
Coisa que no fundo é fácil: para deixar de ser pobre basta trabalhar; só, fazer amigos e encontrar uma mulher a quem a condição financeira dele não importune; (e doente, um médico e remédios). Noventa e nove por cento da humanidade faz isso com sucesso. O restante um por cento alimenta literatura, teatro, cinema e quem sabe a escultura. Digamos: a arte.
Arnaldo era uma obra de arte em busca de um público. Infelizmente para ele há um facto quotidianamente comprovado: os pobres da rua não são os mesmos dos livros, tal como a solidão num filme é diferente da do vizinho (da doença então nem se fala: alguém pensa que um modelo de Botero é obeso, por exemplo?)
Talvez no fundo mais do que de um público Arnaldo precise de um museu.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.