Era um gajo surdo, tão surdo que a surdez se lhe via de longe.
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Uma das coisas boas de andar de bicicleta em Lisboa é que se fica imediatamente a saber que temos os melhores condutores de automóveis do mundo. Um ciclista faz uma daquelas microscópicas, inofensivas e irrelevantes infracções e logo a chusma dos automobilistas que nunca estacionaram em cima de um passeio, passaram com um sinal vermelho, viraram sem pisca-pisca e por aí fora apita e manifesta a sua indignação.
(Forçoso é porém reconhecer que hoje um automobilista cruzou-me quando eu ia em contra-mão e parou para me deixar passar.)
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A maré baixa, baixa e o Verão prolonga-se. Antes assim. Maré vazia por maré vazia ao menos que seja no calor.
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A amizade faz aparecer o melhor que há em cada um de nós; a família dá ao pior um vasto campo de possibilidades de manifestar-se.
Pitigrilli, um autor que fez as delícias da minha adolescência escreveu numa das suas muitas e hoje justamente esquecidas obras "pior do que inimigos, eles eram irmãos". Percebia sem dúvida de irmãos, talvez por experiência directa; e de amigos, quanto mais não fosse a contrario.
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Ontem (na verdade ainda é hoje) fiz sessenta anos. Aquece-me pouco e arrefece-me menos: o jogo só acaba no fim. Até a linha ser cruzada a regata continua; a viagem não acaba até os cabos estarem passados, a máquina parada e à manobra ter sido dada volta.
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Breve entrevista com R., que vai animar um dos meus ateliers flutuantes. A graça existe; neste caso é dupla, interior e exterior.
Sorte a minha: tem aquele tipo de graça contagiosa, airosa (como em aérea), leve e transbordante. Acompanhou-me o que sobrava do dia.
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Avanço pelo tempo como um porta-aviões sem escolta: invencível e vulnerável. Fortaleza frágil, solitária no meio do deserto.
A imagem é mais bonita do que verdadeira, mas não muito.
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Estou cansado, esgotado, exausto como se os sessenta anos que levo tivessem decidido encavalitar-se-me aos ombros.
E na cabeça também, de resto. É em dias assim que lamento não ser capaz de dormir muito. Uns dez anos, por exemplo.
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Ao fim e ao cabo uma só palavra sobrevive. Ou melhor, flutua: hallelujah. E um sinal de pontuação: !
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Uma das coisas boas de andar de bicicleta em Lisboa é que se fica imediatamente a saber que temos os melhores condutores de automóveis do mundo. Um ciclista faz uma daquelas microscópicas, inofensivas e irrelevantes infracções e logo a chusma dos automobilistas que nunca estacionaram em cima de um passeio, passaram com um sinal vermelho, viraram sem pisca-pisca e por aí fora apita e manifesta a sua indignação.
(Forçoso é porém reconhecer que hoje um automobilista cruzou-me quando eu ia em contra-mão e parou para me deixar passar.)
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A maré baixa, baixa e o Verão prolonga-se. Antes assim. Maré vazia por maré vazia ao menos que seja no calor.
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A amizade faz aparecer o melhor que há em cada um de nós; a família dá ao pior um vasto campo de possibilidades de manifestar-se.
Pitigrilli, um autor que fez as delícias da minha adolescência escreveu numa das suas muitas e hoje justamente esquecidas obras "pior do que inimigos, eles eram irmãos". Percebia sem dúvida de irmãos, talvez por experiência directa; e de amigos, quanto mais não fosse a contrario.
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Ontem (na verdade ainda é hoje) fiz sessenta anos. Aquece-me pouco e arrefece-me menos: o jogo só acaba no fim. Até a linha ser cruzada a regata continua; a viagem não acaba até os cabos estarem passados, a máquina parada e à manobra ter sido dada volta.
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Breve entrevista com R., que vai animar um dos meus ateliers flutuantes. A graça existe; neste caso é dupla, interior e exterior.
Sorte a minha: tem aquele tipo de graça contagiosa, airosa (como em aérea), leve e transbordante. Acompanhou-me o que sobrava do dia.
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Avanço pelo tempo como um porta-aviões sem escolta: invencível e vulnerável. Fortaleza frágil, solitária no meio do deserto.
A imagem é mais bonita do que verdadeira, mas não muito.
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Estou cansado, esgotado, exausto como se os sessenta anos que levo tivessem decidido encavalitar-se-me aos ombros.
E na cabeça também, de resto. É em dias assim que lamento não ser capaz de dormir muito. Uns dez anos, por exemplo.
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Ao fim e ao cabo uma só palavra sobrevive. Ou melhor, flutua: hallelujah. E um sinal de pontuação: !
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.