18.12.17

Dia sem fim / Diário de Bordos - Lisboa, 18-12-017

Fui ao Povo e levei o casaco de couro que a miúda me deu. Era do pai dela e fica-me melhor - diz a A. I. - do que o que comprei em Gibraltar por cem euros. Acredito que sim, claro. Não percebo nada destas coisas de ficar bem. Não me aperta e é quente, como se a miúda estivesse ali comigo. É por isso que gosto dele. A poesia foi boa, mas gostei mais da malta que por lá encontrei; e gostei da viagem de regresso para bordo, apesar de me ter parecido demasiado curta. Apetecia prolongar o gozo um bocadinho, mas a verdade é que tenho de me levantar cedo e sem a miúda nunca adormeço muito depressa, fico sem pele e dói.

O almoço também foi bom, em casa do A. G. Voltei de comboio, meio sonolento meio a ver a paisagem e meio a pensar que se isto não é ser daqui então não sei o que é ser daqui. Isto era o estado de comoção em que vinha, o sol, a barra, tudo azul e a ponte ao fundo, o almoço que foi comida para o corpo e para a alma, o comboio que agora pára sempre em todas lá vinha a fazer-me o favor de fazer aquilo durar, como faço eu à miúda, fazer durar o gozo e a comoção e essas mariquices todas.

De maneira assim foi o dia, porreiro e amanhã vou falar com um armador que se tudo correr bem será o meu armador e o dia será teu, miúda. Muito longo, muito nunca-mais-acabes, um sem-fim de dia, como quando estamos os dois juntos numa cama, tu e eu. Coisas boas que nunca mais acabam. Levam é muito tempo a começar, mas isso é outra história. 

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