3.12.17

Diário de Bordos - Lisboa, 03-12-2017

Boa música é aquela que nos fala de turbilhões. Claro que há várias maneiras de se falar de turbilhões e vários turbilhões dos quais se falar. É preciso não os misturar. Leonard Cohen, Jacques Brel, Miles Davis, Ornette Coleman (este não fala de turbilhões. É um turbilhão). Não sei classificar ou ordenar os turbilhões. Patrick Suskind escreveu um texto sobre contrabaixos e agora oiço um, sublime.

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Em Atenas há um bar assim (pelo menos); mas é maior e mais bar. Em Paris e Londres há muitos. Em Barcelona não há nem um, o que só demonstra que é a cidade mais provinciana do mundo, logo a seguir a Miranda do Corvo, Évora ou Palhais de Baixo.

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Privilégio é um gajo poder entrar num bar e ouvir música que lhe faz - simultaneamente - vir lágrimas aos olhos e pensar em Ornette Coleman, duas coisas contraditórias s'il en est -.

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Entre Miles e Coleman venha o diabo e escolha meio milhão de outros: ou um milhar. A música não é questão de nomes. Isto é: normalmente a minha primeira reacção é: "Vão para a puta que vos pariu". Depois precisam de voltar de lá, da puta que vos pariu.

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Não percebo nada de música, mas percebo de turbilhões, de sentimentos e da mistura dos dois.

Sobretudo quando os turbilhões se transformam em quedas de água.

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Marcelo dos Reis - Guitarra
Niels Vermoulen - Contrabaixo.

No Irreal, claro.

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