14.12.17

Diário de Bordos - Lisboa, 14-12-2017

"Curvas e luz" não resume o dia. Nada o faria, ainda que quisesse: curvas dispersas em tanto sítio, tantos rostos, corpos, copos, sorrisos... Já a luz não. Era a fotografia de uma das colunas do cais. Fi-la assim, a pensar "E se em vez de Cais das Colunas fosse Coluna do Cais"? Mas nem isso chega para o dia. Quase é preciso parafrasear Baldwin: "aquele que vive um dia é sempre maior do que o dia que vive". Ou seja: não posso resumir o dia porque sou maior do que ele? Não faz muito sentido.

O que faz sentido é descobrir a luz de um corpo / num corpo. Nos meandros de um desejo fina-se a luz, isto é: apaga-se. O desejo é o território do fim da luz. Começa onde o que se vê acaba.

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Comprei o Kaváfis. Anteontem tive o cuidado de passar pela livraria [Snob] e pedir para reservar o livro. Assim não podia deixar de o comprar. Li os primeiros vinte poemas. Se eu fosse quem ainda não tem este livro correria já para a livraria mais perto. Felizmente agora já não preciso de correr. Basta-me estar deitado e ler.

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Fui ao Irreal mas não fiquei muito tempo a ouvir a música porque amanhã trabalho. Juntamente com "Amo-te muito" e "um copo de vinho tinto, por favor" "amanhã trabalho" deve ser a mais bela combinação de palavras da língua portuguesa.

"Estou a reler Alexandra Alpha" pode talvez entrar na corrida ao título.

Tal como "Boa noite".

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[Pequena nota à margem: quero-te deve sempre vir antes de amo-te. Se vier depois, das duas uma: ou se desconfia ou se louva Deus. Juntar as duas e fazer só uma acção de graças desconfiadas não dá.]

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