17.12.17

Noite, manha

A noite tem manhas que não acabam com um simples til na segunda sílaba. São mais complicadas. Hoje por exemplo o Irreal estava uma merda: os miúdos tocavam demasiado alto e a clientela era demasiado jovem, se é que tal coisa existe.

Deve existir porque a vejo em todo o lado: mulheres novas (uma mulher nova é uma mulher que tem menos de trinta e poucos anos. Ou seja, ainda é só uma pessoa, não chegou à categoria mulher. Uso o termo por comodidade, preguiça ou insuficiência de vontade), homens jovens - alguns bem simpáticos, verdade seja dita - e ninguém mais (aos homens a regra da idade não se aplica porque não percebo nada de homens). O bar estava cheio e vazio ao mesmo tempo, o que tem a ver com a quântica da noite; isto é, com as suas manhas.

De resto nada: vim para bordo fingir que durmo, boa maneira de fintar a noite: não durmo e estou deitado com os aquecedores todos a funcionar, o F. a saracotear-se cortesmente para mim, ver se me adormece pela calada.

Pela calada de noite, quero dizer. Pelas manhas da noite. Un être vous manque et le monde est dépeuplé... Une envie vous manque et la nuit est vide.

Talvez as manhas de noite tenha a ver com a solidão. Não sei. Ou com o vazio dos dias, com a espera: dissolve-se na noite o tempo do dia e ela finge que não vê, manhosa. Talvez.

De certezas sei pouco e de noites ainda menos. Não são feitas para andar juntas, de qualquer forma. E de manhas tão pouco percebo: como sou me dou, noite ou dia.

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