4.2.18

Certezas, dúvidas

Como aquilo começou é para mim um mistério. Lembro-me de que a certa altura falávamos de bater com a cabeça nas paredes e daí passámos para um passeio no campo (eu acabara de descobrir Maupassant, ela conhecia-o de cor e salteado); do campo e das coisas que ficam por dizer e viver desembocámos no trágico problema da inadequação. Estávamos num restaurante de fado e como não havia lugar disse-lhe que se podia sentar à minha mesa. Ela vinha acompanhada por um colega de trabalho. Num intervalo, ela: "Isto é uma seca. Vamos beber um copo aqui ao lado".

Deixámos o colega com uma vaga explicação de um cigarro que precisava de ser fumado e fomos para uma tasca ao lado do restaurante.

Despedimo-nos sem termos sequer perguntado o apelido um do outro. Chamava-se Claire, era magra, morena e tinha aproximadamente trinta e alguns anos. talvez muitos. Frequenta regularmente a biblioteca do Campo Pequeno, um palácio muito bonito ao qual fui todos os dias depois de a ter conhecido (mas nunca a encontrei lá).

"Basta uma noite / Para ferir a tua alma para sempre", diz um poema chinês cujo autor não retive. Talvez não seja sequer preciso uma noite; uma certeza sem a respectiva dúvida chega. As dúvidas curam as feridas que as certezas fazem.

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