No que toca a senhoras não sou um pinga-amor – passo perfeitamente duas semanas sem me apaixonar pela vizinha -; já o mesmo é impossível dizer dos barcos, infelizmente. Apaixono-me à primeira vista sempre, por todos e cada um que me acolhe no seu generoso seio (não tem nada a ver com a gratidão. Não é porque me acolhem que gosto deles. Ao contrário: gosto deles porque os deixei acolher-me).
Tudo isto para dizer que estou perdidamente apaixonado pelo meu galgo velho e maltratado, P. de sua graça, ferido e doente mas lindo e um dia, se Deus quiser, ressuscitado. O barco é bonito, claro: um IOR dos anos oitenta, mandado construir pelo Aga Khan para a Admiral’s Cup. Tem pedigree, como me diz C. quando lhe conto da última mazela (que é um pouco mais do que uma mazela, mas isso é outra história).
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Começo finalmente a desenhar-lhe a geografia; é um dos meus momentos favoritos a cada barco. Trata-se de nos habituarmos ao espaço do bicho e de o fazermos ver que também nós temos as nossas exigências. Uma espécie de compromisso, fazer percursos num relvado, adaptação mútua de dois seres fundamentalmente independentes. Designa-se um lugar para cada coisa, estabelece-se um protocolo rígido de utilização do espaço e dos recursos, explica-se ao bote que quer ele queira quer não vai ter de arranjar espaço para as nossas manias, ritos e ritmos.
Ao fim de pouco tempo a harmonia está feita – uso o verbo propositadamente: nao se trata de encontrar um modus vivendi, mas de o construir, a dois -.
O P. é um bocadinho especial porque nasceu para regatas, não para ser confortável ou acomodante; mais uma carambola para os tempos em que eu regateava e fazia transportes de barcos de regata. Faz-me pensar os gloriosos dias de Dunkerque, a tratar da frota de Rush do Tour de France: não há mazela que não me tenha passado por baixo, por assim dizer; e que não tenha sido reparada – não graças a mim, mas aos talentos da equipa técnica de que eu era minúscula parte -.
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Malditos ponteiros do relógio, andam com mais areia do que podem carregar. Que será feito da minha D., tão linda, tão doce? Olhos azuis cor do mar e cabelos loiros como a cerveja...
Tudo isto para dizer que estou perdidamente apaixonado pelo meu galgo velho e maltratado, P. de sua graça, ferido e doente mas lindo e um dia, se Deus quiser, ressuscitado. O barco é bonito, claro: um IOR dos anos oitenta, mandado construir pelo Aga Khan para a Admiral’s Cup. Tem pedigree, como me diz C. quando lhe conto da última mazela (que é um pouco mais do que uma mazela, mas isso é outra história).
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Começo finalmente a desenhar-lhe a geografia; é um dos meus momentos favoritos a cada barco. Trata-se de nos habituarmos ao espaço do bicho e de o fazermos ver que também nós temos as nossas exigências. Uma espécie de compromisso, fazer percursos num relvado, adaptação mútua de dois seres fundamentalmente independentes. Designa-se um lugar para cada coisa, estabelece-se um protocolo rígido de utilização do espaço e dos recursos, explica-se ao bote que quer ele queira quer não vai ter de arranjar espaço para as nossas manias, ritos e ritmos.
Ao fim de pouco tempo a harmonia está feita – uso o verbo propositadamente: nao se trata de encontrar um modus vivendi, mas de o construir, a dois -.
O P. é um bocadinho especial porque nasceu para regatas, não para ser confortável ou acomodante; mais uma carambola para os tempos em que eu regateava e fazia transportes de barcos de regata. Faz-me pensar os gloriosos dias de Dunkerque, a tratar da frota de Rush do Tour de France: não há mazela que não me tenha passado por baixo, por assim dizer; e que não tenha sido reparada – não graças a mim, mas aos talentos da equipa técnica de que eu era minúscula parte -.
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Malditos ponteiros do relógio, andam com mais areia do que podem carregar. Que será feito da minha D., tão linda, tão doce? Olhos azuis cor do mar e cabelos loiros como a cerveja...
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.