23.5.18

Ruth e a dor

De Ruth guardo um tecido para limpar óculos com uma imagem de um quadro de Van Gogh trazido de uma visita ao museu de Amsterdão e a ideia de que devia ter limpo os óculos antes de ela me deixar e não depois. Agora é tarde.

Era uma miúda alta, muito magra, morena, bonita como o amor que sentia por mim, que era vasto. (E por ela. Narciso passou por ali. Há pecados piores. Esse é invejável).

Uma vez disse-lhe "estás à distância de um grito" e ela respondeu "não posso". O grito era meu por mim, não dela. A verdade é que recusei terminantemente apaixonar-me enquanto ela não "pudesse"; agora recrimino-me: "se te tivesses apaixonado hoje poderia".

Mentira, claro. Mas a história teria sido mais bonita. Isto é: ainda mais dolorosa.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.