28.6.18

Diário de Bordos - Palma, Mallorca, Baleares, Espanha, 28-06-2018

A senhoria recomendou-me o Bar Michel, com uma ressalva: "é o melhor daqui e é barato, mas é de gays. O dono é gay e aquilo é o ponto de encontro deles". Estou-me completamente nas tintas, respondo em espanhol: "me da igual". Não da: é do conhecimento comum que "eles" têm bom gosto e "eles" são tão civilizados e "eles" isto e "eles" aquilo, como se viessem de outro planeta.

Não sei se o jovem que me serve é o dono, mas tenho a certeza absoluta de que antes de vir trabalhar hoje esteve a posar para o equivalente maricas da Playboy. E junto mais uma qualidade a "eles": fazem-me sentir em Marrocos ou na Arábia Saudita ou num pais "desses" ("esses" não sendo "eles",  claro. Os muçulmanos não são maricas, Deus nos livre, tratam as mulheres como tratam por questões culturais, etc.) - não há uma única mulher no bar.

Mas lá que me sinto num pais árabe sinto, com duas excepções: a quantidade de mulheres bonitas e meio vestidas (está calor) que passa a três palmos de mim - estou na esplanada, metro e meio acima do passeio - e o vinho excelente e à temperatura correcta que bebo. O Bar Michel ganhou um cliente.

De qualquer forma a Colômbia não ganha todos os dias e o grunho da mesa atrás não vai urrar muitas mais vezes "Viva a Colômbia". E continuará decerto a referir-se ao amigo como "este maricón", forma enternecedora e demonstrativa de que mesmo um apreciador de futebol é capaz de sentimentos.

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Bolas! Uma mulher sozinha, gira, sorridente e jovem a duas mesas! Estou em Palma e não em Rabat (espero que apreciem a subtileza).

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O refit do P. estava parado, encravado, a pedalar na semoule por causa de um fdp que me andava a dar baile há três semanas.

("Fdp" e "dar baile" são expressões manifestamente exageradas, provocadas por uma raiva mal digerida. Ainda em Lisboa pu-lo a andar. Hoje arranjei - tudo indica - um substituto. É preciso ter em mente um velho ditado do futebol (tantas vezes desviado para outras áreas): "Só conta quando está lá dentro". Mas tenho uma sensação tão forte de que este bloqueio vai saltar, tão forte como aposto que em Setembro estarei a caminho das Canárias montado num P. brilhante de novo e fogoso na gratidão).

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Das duas uma: ou a ilha está cheia de Colombianos ou eles moram todos nesta rua.

(A hipótese de eu ser hiper-sensível a manifestações ruidosas, públicas e lamentáveis e  estar a sobre-reagir deve ser liminarmente afastada).

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Se os dias fossem imperiais querê-los-ia como o de hoje: muita espuma bonita por cima de muita e boa cerveja.

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Ver passar o Verão com uma vista plongeant sobre os respectivos decotes, da esplanada do bar gay do quarteirão é uma das provas não-teológicas da existência de Deus.

E do Seu infinito sentido de humor.

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.