- És um homem especial - diz-me N. (Queria dizer diferente).
- Não. Sou um homem feliz e livre. - N. não percebeu a alusão e eu lamentei-a: gostaria de ser feliz e livre, só, simplesmente, como qualquer pateta alegre. - Como eu há milhões.
Levou-me a Banyalbufar ver um terreno que está à venda. Não tem dinheiro para o comprar, diz-me, mas quer ir vê-lo. O terreno é uma merda - enfim, não é. É óptimo, mas tem uma ruína de doze metros quadrados e não se pode construir mais nada: refazer a ruína, é tudo.
Depois vamos beber um copo e a conversa retoma onde ficou ontem: tenho de pensar no futuro. N. é uma dentista iraniana que fez a sua vida toda em Berlim e agora, faz um ano e meio, se mudou para Palma.
Vive sozinha num apartamento de cento e oitenta metros quadrados - disse-me ela, nunca o vi -; comprou outro (creio que outro, não lho perguntei) que está a refazer.
"Para ter alguma coisa que fazer", explica. "Aborreço-me se não me ocupar".
Sempre apreciei pessoas que compram imobiliário por desfastio, sobretudo em cidades como Palma, mas N. às vezes aborrece-me. Parece a minha irmã R., senhora por quem tenho uma admiração sem fim mas de quem não partilho nem a opinião sobre os berlindes amarelos, quanto mais instruções sobre o meu futuro.
Ficámos de nos rever: ela não se importa de ser vista na rua com um velho gordo, cansado e surdo e eu não me importo de ouvir conselhos vindos de quem me encontrou há um dia numa espécie de tasca chamada La Sifoneria. Estou em vantagem, devo reconhecer: é mais fácil calá-la do que deixar de ser gordo. E surdo.
.....
A ideia é alugar-me um quarto por um mês, no fim deste vou ter de deixar o maravilhoso apartamento onde agora estou e comecei à procura do seguimento. Mas para ela é uma experiência nova e hesita.
Não sei. Uma senhoria pouco gananciosa sim. Uma conselheira de vida? Duvido.
........
A mesa ao lado da minha no Vermu, Pintxos y Latas onde vim comer um pintxo e beber um Vermú (ele há coincidências danadas) é composta por cinco mulheres na casa dos quarenta e meios.
Não sei se alguma vez as mulheres conseguirão perceber o efeito devastadoramente positivo que os quarenta anos têm nelas, mas ao ver estas só há uma resposta: sim, há muito tempo, sua besta.
- Não. Sou um homem feliz e livre. - N. não percebeu a alusão e eu lamentei-a: gostaria de ser feliz e livre, só, simplesmente, como qualquer pateta alegre. - Como eu há milhões.
Levou-me a Banyalbufar ver um terreno que está à venda. Não tem dinheiro para o comprar, diz-me, mas quer ir vê-lo. O terreno é uma merda - enfim, não é. É óptimo, mas tem uma ruína de doze metros quadrados e não se pode construir mais nada: refazer a ruína, é tudo.
Depois vamos beber um copo e a conversa retoma onde ficou ontem: tenho de pensar no futuro. N. é uma dentista iraniana que fez a sua vida toda em Berlim e agora, faz um ano e meio, se mudou para Palma.
Vive sozinha num apartamento de cento e oitenta metros quadrados - disse-me ela, nunca o vi -; comprou outro (creio que outro, não lho perguntei) que está a refazer.
"Para ter alguma coisa que fazer", explica. "Aborreço-me se não me ocupar".
Sempre apreciei pessoas que compram imobiliário por desfastio, sobretudo em cidades como Palma, mas N. às vezes aborrece-me. Parece a minha irmã R., senhora por quem tenho uma admiração sem fim mas de quem não partilho nem a opinião sobre os berlindes amarelos, quanto mais instruções sobre o meu futuro.
Ficámos de nos rever: ela não se importa de ser vista na rua com um velho gordo, cansado e surdo e eu não me importo de ouvir conselhos vindos de quem me encontrou há um dia numa espécie de tasca chamada La Sifoneria. Estou em vantagem, devo reconhecer: é mais fácil calá-la do que deixar de ser gordo. E surdo.
.....
A ideia é alugar-me um quarto por um mês, no fim deste vou ter de deixar o maravilhoso apartamento onde agora estou e comecei à procura do seguimento. Mas para ela é uma experiência nova e hesita.
Não sei. Uma senhoria pouco gananciosa sim. Uma conselheira de vida? Duvido.
........
A mesa ao lado da minha no Vermu, Pintxos y Latas onde vim comer um pintxo e beber um Vermú (ele há coincidências danadas) é composta por cinco mulheres na casa dos quarenta e meios.
Não sei se alguma vez as mulheres conseguirão perceber o efeito devastadoramente positivo que os quarenta anos têm nelas, mas ao ver estas só há uma resposta: sim, há muito tempo, sua besta.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.