Desci para ir pôr o lixo no contentor e acabei no bar Rita, levado por uma estranha mistura de raptos, sonhos, desejos e mais sei eu o quê. É preciso dizer que o bar Rita é um sítio muito especial para mim, apesar de não ir lá frequentemente: no bar Rita aprendi - ou confirmei, nestas coisas é difícil decidir - que "sempre" tem um princípio, por muito incerto que seja o fim. Isto é, a eternidade começou um dia, a uma determinada hora. Pouco importa para o caso: um gajo vai à rua deixar o lixo - embrulhado em dois sacos para ninguém ver que está tudo junto, garrafas e cascas de laranja e ovo, sacos de plástico do supermercado e caroços de pêssego - não é mentira nem exagero, os sacos são ecológicos, logo transparentes e finos, aquilo ameaça rebentar se calha ao pequeno-almoço comer dois ovos em vez de um de modo uso sempre dois, é mais ecológico e as pessoas da praça (o equivalente ao Rossio de Lisboa) não têm nada de ver o que eu comi e muito menos arriscar-se a que o saco rebente se for só um, para além do terror da multa - o contentor tem mais cores do que o arco-íris, cada uma para o seu tipo de lixo e o meu vai todo para a cor que diz "Orgânico" em espanhol, catalão, inglês, alemão, chinês, japonês, tagalog, swahili, inuit e mais não sei quantas línguas e a verdade é que não sei se aquilo está assim tão bem indicado para que se for apanhado a deitar lixo fora do penico, passe a expressão, apanhe uma multa. Não sei nem me importa, até agora ninguém me chateou nem perguntou fosse o que fosse. Enfim, não me importo é maneira de dizer, detesto dar dinheiro ao Estado seja de que maneira for e então multas de lixo nem pensar.
Chego portanto ao bar Rita, quase sem querer e peço umas hierbas secas com um cubo de gelo e de repente lembro-me de que não tenho dinheiro, não fui à máquina dos spaghetti (ou das hierbas, neste caso) e vou a correr lá dentro dizer ao senhor para cancelar a ordem e ele diz-me "estás maluco? Pagas noutro dia". E perante o meu olhar meio espantado meio aflito continua "Senta-te, já te levo o copo".
Ai Rita, Rita das noites que de dia estás fechada aqui tão perto, vou começar a ir pôr o lixo à rua todos os dias só para ir ao Rita das noites beber umas hierbas secas e sonhar com raptos à janela e hierbas numa praça de Palma, que isto da liberdade é quando um homem quer, não quando pode ou o deixam.
Amanhã volto ao Bar Rita pagar as hierbas de hoje e beber mais meia dúzia, à saúde.
Chego portanto ao bar Rita, quase sem querer e peço umas hierbas secas com um cubo de gelo e de repente lembro-me de que não tenho dinheiro, não fui à máquina dos spaghetti (ou das hierbas, neste caso) e vou a correr lá dentro dizer ao senhor para cancelar a ordem e ele diz-me "estás maluco? Pagas noutro dia". E perante o meu olhar meio espantado meio aflito continua "Senta-te, já te levo o copo".
Ai Rita, Rita das noites que de dia estás fechada aqui tão perto, vou começar a ir pôr o lixo à rua todos os dias só para ir ao Rita das noites beber umas hierbas secas e sonhar com raptos à janela e hierbas numa praça de Palma, que isto da liberdade é quando um homem quer, não quando pode ou o deixam.
Amanhã volto ao Bar Rita pagar as hierbas de hoje e beber mais meia dúzia, à saúde.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.