25.8.18

Re-edição (Uma história curta)

Os corpos e a inteligência

     "On ne baise pas avec nos corps, mais avec nos intelligences", dizia-me. Eu não acreditava.

     Tinha o hábito de, antes de cada felação, mergulhar-me o pénis numa bebida alcoólica; "dá mais gosto", explicava. Um dia sugeri-lhe o champagne e ela gostou. Ficou a nossa bebida e ainda hoje é a minha.
     Gostava muito dela: era uma alemã de Heidelberg com feições de viking e duas maminhas que pareciam miniaturas do Monte Fuji. Cada vez que fazíamos amor eu pensava num haiku do Issa "Lentamente, lentamente, / caracol / sobe o Fuji". Fazíamos amiúde: morava perto de mim. Todos os dias me deixava em casa um xarope de maracujá que misturado com vodka, água tónica e grenadine constituia um cocktail ao qual mais tarde vim a chamar CTS (de Commodity Tracking System, um programa de informática no qual estávamos a trabalhar e que mais ou menos nessa época acabámos com sucesso).
     Tinha um namorado francês, dono de um hotel. Assim que acabávamos de fazer amor explicava-me que estava com ele por causa da estabilidade, só por causa da estabilidade. Em seguida, pedia-me para ir deixá-la a casa, que era o hotel dele.
     Não consigo deixar de pensar nela: não me lembro do seu nome, nem do que me chamava quando me insultava, o que era frequente. Insultava-me copiosamente, aos gritos, enquanto tinha um orgasmo; insultava-me porque queria que eu lhe desse estabilidade e orgasmos e eu não podia: ou um ou outro.

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