11.9.18

Se e os labirintos

Falávamos de labirintos. A questão era "com nevoeiro um labirinto continua a sê-lo?"

Eu defendia que sim: "Um labirinto existe fora da nossa experiência sensorial. Um labirinto é inacessível com ou sem nevoeiro, tal como tu, eu ou o homem que no bar se estende ao balcão, ligeiramente bêbedo".

Ela contestava: "Um labirinto só o é se tu o souberes labirinto. Se não souberes, não passa de nevoeiro. O homem bêbedo é inacessível porque está a sonhar com o labirinto dos bêbedos".

- Imaginemos uma águia.
- Cega? Bêbeda?
- ...
- ...
- ... no centro do qual se perde um diamante, uma flor, um pedaço de nuvem, o farrapo de uma ideia, a metade realizável de um sonho, a arte perdida de adormecer ao sol numa praia com uma simples toalha por baixo e nada por cima, a imagem de um polícia sinaleiro que manda parar o trânsito para tu passares, a eterna questão "teria sido feliz se...?"

[Substituir as reticências por um eixo vertical de hipóteses.]

Vectores. Substituir os raios de sol, os movimentos compassados das formigas, a atracção inexplicável por um corpo em detrimento de outro, a noite aqui por um dia ali, a ausência de sono por um desejo irreprimível como as vagas que na praia rebentam de tristeza (será tristeza? Talvez alivio, não?)

Bom, se num grão de areia se puder ver o universo; se nos teus lábios a palavra "sim" se formar, imperceptível para todos os olhos e ouvidos menos os meus...

Se.

Se, minha querida, é a porta de abertura de qualquer labirinto e o seu fim. É nela e por ela que todos começamos, nela e com ela que desaguamos no deserto.

Mil flores florescerão. Sorrisos, esperanças, mãos e peles, futuros e até quem sabe um passado ou outro, um presente à sorrelfa.

Tudo, menos uma única e simples certeza.

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